Mélanie Laurent, firme em sua evolução de atriz para diretora, apresenta com perspicácia “As Ladras”, um filme que desafia o olhar convencional sobre a feminilidade ao retratar mulheres determinadas a redefinir as expectativas impostas sobre elas. Ao invés de se submeterem a estereótipos, as protagonistas de Laurent esboçam um cenário onde a falibilidade masculina torna-se um contraponto quase infantil diante da sagacidade feminina.
O filme é uma continuidade da reflexão iniciada com “O Baile das Loucas”, e agora a diretora refina ainda mais sua abordagem, enlaçando o público com um compromisso de autenticidade e a busca pelo incomum. No coração da narrativa de “As Ladras”, três gerações de mulheres exemplificam a versatilidade e a relevância de cada personagem, independente de gênero. Laurent reverbera estratégias e ideias de seus trabalhos anteriores, consolidando um diálogo com seu público. A trama começa com Carole, uma ladra veterana, e sua parceira Alex, que negligencia suas responsabilidades por distrações amorosas, um deslize que poderia custar suas vidas.
A dinâmica entre Laurent e Adèle Exarchopoulos é envolvente, introduzindo o espectador a um mundo inspirado no universo dos quadrinhos “A Grande Odalisca”. Carole, embora anseie pelo repouso que sua fortuna ilícita poderia proporcionar, se vê ainda presa ao jogo de gato e rato, um ofício que traz consigo tanto a adrenalina quanto o peso inegável do tempo, um tema que Laurent aborda com discrição.
Adèle Exarchopoulos irradia a energia da juventude, e ao lado de Sam, uma piloto de corrida que renuncia às pistas por causa do sexismo estrutural, encontra um novo caminho na equipe de Carole. Juntas, elas são a personificação do vigor juvenil, seduzidas pela promessa de uma aposentadoria segura, contudo, é a promessa da próxima dose de adrenalina que realmente as mantém.
O trio é completado por Manon Bresch, cuja presença adiciona um charme misterioso ao grupo, e no terceiro ato da história, elas se veem obrigadas a colaborar com a Madrinha, interpretada por uma Isabelle Adjani quase irreconhecível sob o véu do tempo e da cirurgia plástica.
“As Ladras” de Laurent dialoga com filmes como “Bela Vingança” e “A Bailarina”, pois consegue entreter e ao mesmo tempo inserir debates profundos. É a escrita de Laurent, junto com Christophe Deslandes e Cédric Anger, que habilmente tecem um enredo onde o que é imediatamente perceptível é apenas a ponta do iceberg. O filme provoca e diverte, um equilíbrio meticulosamente calibrado pela visão de Laurent, que prima pela sagacidade e pela complexidade de seus personagens femininos, transformando o filme em um manifesto sutil de resistência e determinação.
Filme: As Ladras
Direção: Mélanie Laurent
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Comédia/Policial
Nota: 8/10