Filme, indicado a 8 Oscars e considerado a mais bela história de amor do século 21, está na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

Filme, indicado a 8 Oscars e considerado a mais bela história de amor do século 21, está na Netflix

A capacidade de tecer uma narrativa que se esforça incessantemente para injetar uma dose de esperança, mesmo quando se confronta com questões sombrias, é um feito extraordinário. Isto porque alcançar o ponto de equilíbrio entre cativar e fazer refletir é uma arte delicada. “O Lado Bom da Vida” atinge esse marco, não apenas optando por rostos charmosos como protagonistas, mas também por sua habilidade em transcender o status quo de Hollywood. Este é um romance que destoa dos padrões, sendo uma respiração profunda em uma indústria frequentemente saturada de superficialidade.

David O. Russell, em uma de suas criações mais notáveis, escolhe não apenas pela estética ao trazer atores jovens e populares, mas principalmente pela audácia em retratá-los como indivíduos lutando contra perturbações mentais. Ao decidir revelar gradualmente a humanidade sob camadas de lutas internas, Russell cria um contraponto desafiador ao Bradley Cooper que o público conheceu inicialmente em produções mais leves como “Sex and the City”. Cooper, que tem trabalhado meticulosamente em sua carreira, brilha intensamente neste filme, possivelmente oferecendo sua atuação mais impactante até então, no papel de Patrizio Solitano Jr., também conhecido como Pat, que se apresenta como um personagem enriquecedor.

A abordagem da doença mental, especialmente em um contexto em que o personagem principal, após um choque emocional, enfrenta alterações profundas em sua personalidade, exige sensibilidade. Russell, ciente dos desafios, representa a transformação de Pat, cuja explosão de raiva e defesa da honra o leva a uma internação psiquiátrica, culminando em consequências drásticas, incluindo a perda de seu emprego e a necessidade de se distanciar de Nikki, sua ex-esposa. Interessante também é o retrato dos pais de Pat: enquanto Dolores, interpretada pela brilhante Jacki Weaver, nos cativa, Pat Sr., interpretado pelo renomado Robert De Niro, parece menos inspirado, criando um contraste palpável com Weaver, sua principal parceira de cena.

A história ganha um novo dinamismo com a entrada de Jennifer Lawrence, dando vida a Tiffany, uma mulher que, após uma perda trágica, responde com comportamentos impulsivos, resultando em sua demissão. Seu encontro com Pat, proporcionado por um jantar familiar, revela uma atração inegável e complexa, oriunda de suas vivências e desafios compartilhados.

O filme, em sua essência, se concentra na metamorfose de Pat e Tiffany, que, em um momento, desafiam as convenções, e em outro, as abraçam. Em um mundo onde suas ações os colocam em desacordo com a sociedade, a dupla se encontra em um turbilhão emocional, onde os limites entre certo e errado são borrados. Mas, ao se aproximarem, descobrem afinidades e diferenças, culminando em uma dança de emoções, literal e figurativamente.

O crescimento mútuo de Pat e Tiffany, desde os ensaios para o concurso de dança até o evento principal, ilumina as telas. O relacionamento dos dois atores fora das telas, marcado por rumores, apenas acentua a química evidente em suas atuações, especialmente no contexto deste filme e de suas colaborações subsequentes. Cooper, em particular, apresenta uma atuação memorável, equilibrando vulnerabilidade e força, merecendo reconhecimento pelo seu talento inquestionável.

“O Lado Bom da Vida” transcende a ideia de um simples duelo de talentos. Cada componente da narrativa se entrelaça harmoniosamente, entregando ao público uma história de reconstrução e reconfiguração de laços, ressaltando a beleza da imperfeição e a possibilidade do recomeço.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10