Imperdível na Netflix: o melhor filme de ação de Angelina Jolie Divulgação / Columbia Pictures

Imperdível na Netflix: o melhor filme de ação de Angelina Jolie

A Guerra Fria (1947-1991) continua dando vazão a tramas de suspense de motes os mais variados. Em maior ou menor grau, todas frisam as hostilidades entre os Estados Unidos e a então União Soviética, que impunha o socialismo como o passaporte para a utopia de uma humanidade com mais justiça social. É difícil cravar com precisão absoluta se os próprios soviéticos criam na fantasia de um mundo verdadeiramente socialista, como o idealizaram Marx e Engels, a começar pelos gospódines daquela terra prometida, que gozavam de todos os privilégios do capitalismo e os negavam ao cidadão comum, sem ao menos disfarçar.

Em “Salt”, uma espiã parece estar com um pé em cada barco e servir dois patrões, o austero czarismo russo, reinventado, e o maravilhoso capitalismo liberal e libertino da América. Por isso, claro, passa a ser perseguida por serviços secretos de todo o globo, uns interessados em tê-la em sua folha de pagamento; outros, ao contrário, sequiosos por dar um fim naquele diabo traquino, capaz de acabar com um exército inteiro com uma mão nas costas, quase sem figura de linguagem. Evelyn Salt, a anti-heroína de Phillip Noyce, escapa por um triz de fuzilamentos em autocracias liberticidas ao redor do mundo enquanto quem assiste conjectura sobre o porquê de sua vida errante e solitária. Aos poucos, o roteiro de Kurt Wimmer confere humanidade a essa mulher que tinha tudo para ser feliz numa besta vidinha doméstica, mas que preferiu escalar montanhas inexpugnáveis em nome do que acredita.

“Salt” é uma pancada atrás da outra. Já no prólogo, a agente secreta da CIA vivida por Angelina Jolie, é mostrada padecendo sevícias odientas num porão escuro e úmido da República “Democrática” Popular da Coreia. Pouco depois, Kim Jong-il (1941-2011), o pai de Kim Jong-un, o déspota de turno, num de seus últimos lances antes de despachar-se para o reino da eterna sarça ardente, resolve libertar Salt, que não entende nada — e também não digere o governo dos Estados Unidos ter mobilizado o Senado para que fosse autorizado o empenho de centenas de milhares de dólares no resgate.

Quem vai recepcioná-la na fronteira entre a Coreia do Norte e a República da Coreia, a Coreia do Sul, é o marido, Mike Krause, o biólogo alemão naturalizado americano interpretado por August Diehl, e no caminho, o roteiro de Wimmer aproveita os poucos momentos de calmaria para explicar, ou menos fomentar insinuações, sobre o passado de Evelyn. Um flashback de pouco menos de uma década mostra os personagens de Jolie e Diehl num idílio reservado, quase clandestino, como se adivinhassem o furacão que os iria martirizar não muito tempo depois. Oleg Vassilyevich Orlov, um dos mais bem-sucedidos gângsteres da plutocracia cleptômana russa, solicita os préstimos da espiã e então, a vida de Salt vira de cabeça para baixo.

Esse encontro breve, mas decisivo, com o vilão de Daniel Olbrychski serve de pretexto para que gente do próprio serviço secreto ianque a persiga, remontando em alguma proporção à sequência inaugural, com os capangas de Kim Jong-il, mas predizendo seu destino quando de volta à América. Boa parte do segundo ato é ocupada pelas magníficas cenas de confronto entre Salt e Ted Winter, de Liev Schreiber. O alto funcionário da CIA é quem melhor encarna o papel de algoz da ex-subordinada, que não tem nenhuma vontade de parar até que apenas um dos dois fique para contar o resto da história. 


Filme: Salt
Direção: Phillip Noyce
Ano: 2010
Gêneros: Ação/Mistério
Nota: 9/10