O filme filosófico e poético na Netflix que vai mudar sua forma de enxergar a vida Divulgação / Lighthouse Home Entertainment

O filme filosófico e poético na Netflix que vai mudar sua forma de enxergar a vida

Os encantos da atuação discreta e elegante de Patrick Stewart dão o tom no melodrama de Claude Lalonde “A Última Nota”. Em um enredo bastante artístico, poético e sensível, o ator britânico interpreta Henry Cole, um pianista de sucesso que vê sua vida virar de cabeça para baixo após a morte de sua esposa. De repente, as cores e a beleza de tudo parecem esvaecer. A idade, que antes não parecia ser um problema, agora começa a pesar. Mas não é apenas o vigor físico de Cole que está em declínio, mas sua saúde mental. Sofrendo com crises de pânico e ansiedade, ele se afasta dos palcos por um tempo, mas é pressionado por seu amoroso amigo e agente, Paul (Giancarlo Esposito), a retornar. Paul quer impulsioná-lo de volta para a vida e impedí-lo de se afundar em seu próprio luto e inseguranças.

Durante uma coletiva de imprensa, Cole conhece Helen Morrison (Katie Holmes), uma jornalista jovem, doce e carismática, que parece estar em busca de respostas para a vida assim como ele. Sua presença o faz se sentir menos solitário em mundo que parece não cabê-lo mais. Helen quer convencê-lo de dar uma entrevista para um perfil na The New Yorker, revista para a qual trabalha, mas Cole está resistente quanto a quase tudo que o expõe. Na verdade, ele está arrependido de ter agendado uma turnê com seu agente e foge o quanto pode de qualquer contato social.

“A Última Nota” é bastante sutil. Seu enredo é enxuto, embora seus diálogos inteligentes e afiados sejam cheios de reflexões filosóficas e existenciais. A estética do filme é bela e simples, onírica, clara e, ao mesmo tempo em que parece primaveril, também guarda uma essência melancólica. É o tipo de produção que enriquece sem necessidade de grandes efeitos ou mirabolâncias. Apenas sua narrativa bem construída e as atuações de tirar o fôlego são suficientes para torná-lo grande. É um drama observacional, que busca vasculhar o labirinto de emoções humanas diante da morte, da velhice e do fracasso. Cole não é fracassado, pelo contrário, é muitíssimo admirado por seus fãs, que anseiam por seu retorno. Mas é exatamente isso que o faz questionar seu talento e propósito.

Enquanto Helen acompanha Cole pela cidade, demonstra sua habilidade profissional de saber quando falar e quando se calar, ouvindo sempre com um entusiasmo juvenil os drops de sabedoria de seu ídolo. Embora seja inteligente, culto e vivido, é agora no fim de sua vida e diante de todas as suas experiências que Cole consegue medir com mais clareza e simetria sua própria pequenez. Ele constantemente se sente irrelevante em relação ao universo e agora nada mais parece fazer tanto sentido.

Enquanto explora essa relação improvável entre artista e jornalista, e as dores tão profundas e insondáveis de seu protagonista, o filme banha os ouvidos dos espectadores com uma trilha emocionante que navega pelos mares de Schumann a Bach.

Uma curiosidade é que apesar de Lalonde acumular uma dezena de trabalhos como roteirista, este é seu primeiro e único como diretor, seja em curta, média ou longa-metragem. Uma outra informação interessante é que Patrick Stewart, embora tenha feito aulas de piano para simular com mais realismo ser um pianista para o filme, jamais conseguiria tocar o instrumento à esta altura, pois sofre de artrite aguda.


Filme: A Última Nota
Direção: Claude Lalonde
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 9/10