Filmaço com Ben Kingsley na Netflix retrata uma das histórias reais mais impactantes da humanidade Divulgação / MGM

Filmaço com Ben Kingsley na Netflix retrata uma das histórias reais mais impactantes da humanidade

Adolf Hitler, Joseph Goebbels e Heinrich Himmler escaparam de ser julgados por seus crimes durante o Terceiro Reich ao tirarem suas próprias vidas ao fim da Segunda Guerra. A sorte de Reinhard Heydrich foi ter morrido três anos antes pelas mãos dos soviéticos. Ele não chegou a ver a derrocada da Alemanha nazista. Dos principais mentores do Holocausto, apenas Adolf Eichmann pode aproveitar anos de tranquilidade e liberdade após o fim da guerra.

Um homem que cresceu em uma família simples e foi movido durante sua vida pela mais pura ambição e desejo de se tornar importante, Eichmann foi um dos principais estrategistas da Solução Final, o genocídio dos judeus na Europa. O Julgamento de Nuremberg conseguiu condenar e punir os militares de Hitler, mas Eichmann, que não foi morto durante a guerra e nem atirou contra a própria cabeça ao final dela, havia desaparecido completamente sem deixar rastros.

Eichmann chegou a ser preso em 1946 pelos Estados Unidos, mas conseguiu escapar com ajuda de autoridades da Igreja Católica para a Argentina. Lá, ele viveu por 14 anos como um homem comum. Ricardo Klement pegava ônibus todos os dias para seu trabalho na Mercedes-Benz até ser encontrado e capturado pelo Mossad, o serviço secreto israelense.

No filme “Solução Final”, de direção de Chris Weitz e roteiro de Matthew Orton, acompanhamos a caçada a Eichmann em Buenos Aires e seu contrabando até Jerusalém. Eichmann é interpretado pelo ganhador do Oscar de melhor ator Ben Kingsley. Como o governo argentino era considerado simpatizante do fascismo, os israelenses não compartilharam informações sobre a missão do Mossad em seu solo. Eichamnn foi sequestrado e mantido prisioneiro até ser conduzido à Israel. Durante o interrogatório na Argentina, ele admitiu sua identidade.

O grupo que obedeceu aos comandos do governo israelense foi comandado por Peter Malkin (Oscar Isaac). Foram meses de uma investigação meticulosa antes da arriscada execução do plano. O longa-metragem se concentra na tensão de cada dia da operação que sofreu inúmeros contratempos. Em meio a isso, Malkin tem flashbacks e visões de sua irmã, que foi morta com os três filhos, ainda crianças, por nazistas nas florestas de Lublin. Seu dever justo e heroico de capturar um criminoso contra a humanidade se funde com o desejo de vingança pela morte de uma das pessoas que mais amou em sua vida.

Os diálogos entre os dois personagens marcam os momentos mais interessantes da trama. Eichmann assume o papel de presa, ao invés de predador, e se vê à mercê de Malkin, um captor muito mais humanizado, embora seu ódio contra Eichmann seja igualmente implacável. Reflexões fascinantes sobre moralidade e culpa quase despertam a empatia entre ambos e são a cereja desse bolo. É claro, tudo é uma dramaticidade construída para a trama, assim como o suspense.  As atuações de Isaac e Kingsley são realmente magnéticas e hipnotizantes.

O sequestro de Eichmann provocou um impasse diplomático entre Israel e Argentina, com troca de ameaças e corte de vínculos que, depois, foram restabelecidos. O país sul-americano realmente estava obstinado a proteger Eichmann e exigiu sua devolução para seu território, sob ameaça de levar o caso à Organização das Nações Unidas (ONU). Israel, entretanto, conseguiu condenar o “Arquiteto da Solução Final”, como foi intitulado Eichmann. E o filme ainda retrata sua vaidade ao afirmar que “adora apelidos”. Seu julgamento foi televisionado mundialmente. Eichmann foi considerado culpado por seus crimes e enforcado em 1º de junho de 1962, na única sentença de morte proferida pela corte de Israel da história.


Filme: Solução Final
Direção: Chris Weitz
Ano: 2018
Gênero: Drama/História/Suspense
Nota: 9/10