Filme que acaba de chegar na Netflix expõe crise nos Estados Unidos e vai te deixar indignado Divulgação / IFC Films

Filme que acaba de chegar na Netflix expõe crise nos Estados Unidos e vai te deixar indignado

Segundo longa-metragem de Josef Kubota Wladyka, “Infiltrada: Golpe de Vingança” é um comovente e intenso thriller protagonizado pela lutadora de boxe da vida real Kali Reis. Embora sua protagonista, Kaylee, também seja uma boxeadora, e isso apareça por diversas cenas do filme, o enredo não gira em torno do esporte. Kaylee está desesperada para encontrar sua irmã mais nova, Weeta (Mainaku Borrero), desaparecida há dois anos. Enquanto empreende sua própria investigação, ela convive com a culpa e a dor pelo misterioso e possivelmente trágico destino da jovem.

Neste drama imersivo, sentimos com bastante realismo os perigos e aflições vividos por Kaylee, uma mulher de etnia mista, cuja mãe é indígena e o pai é cabo-verdense. Enquanto seu biotipo é negro, o de sua irmã mais nova é indígena. Ambas na linha mais vulnerável da violência contra a mulher. Os desaparecimentos de jovens dos povos originários no país são alarmantes e, quase sempre, os casos não são investigados com seriedade e punidos, até porque o sistema de Justiça tem muitas brechas para proteger os responsáveis. Muitos filmes já denunciaram a violência e o descaso nessa versão aprimorada e cruel do colonialismo.

“Infiltrada: Golpe de Vingança” é mais um que tenta apontar para este problema seríssimo. Infelizmente não será o último. O enredo chamou atenção de Darren Aronofsky, que se tornou um de seus produtores. A ideia surgiu quando Wladyka conheceu Kaylee na academia em que ela treinava, em Providence. Ele a achou incrível, não só por ser uma campeã do boxe, mas porque ela tem intenso ativismo em relação à crise de indígenas desaparecidos nos Estados Unidos. Então, o cineasta decidiu pegar uma câmera e acompanhá-la durante suas preparações para as lutas. Depois, começou a desenvolver com ela o roteiro para o filme.

A história se passa em Buffalo, porque Kali nasceu em uma aldeia indígena da região. Wladyka e ela decidiram fazer a história girar em torno do desaparecimento da irmã, porque eles sempre conversavam sobre como seus irmãos eram importantes para eles. Então, surgiu essa premissa de uma protagonista que não medisse esforços ou escrúpulos para descobrir o paradeiro da irmã.

O primeiro filme de Wladyka, “Mãos Sujas”, foi bastante elogiado pela crítica. O cineasta passou um tempo ocupado com as séries “Narcos” e “The Terror” até conseguir lançar seu segundo longa-metragem. Particularmente, acho que “Infiltrada: Golpe de Vingança” foi subestimado pela crítica. Ele é muito melhor que suas avaliações no IMDb e Rotten Tomatoes.  Além disso, o nome que ganhou no Brasil não o valorizou.

Sua fotografia azulada, fria e saturada nos remete a um lugar e um tempo distante, esquecido e negligenciado. E, no fim das contas, é exatamente sobre isso. Sobre como os povos indígenas no país se sentem descolados do sonho americano. A belíssima estética do filme reforça o clima de tensão e violência.

Enquanto se infiltra em meio a homens brancos que posam de pais de família conservadores, mas que são, na realidade, traficantes de crianças, adolescentes e mulheres, Kaylee demonstra bravura e determinação. Ela pode até morrer no percurso, mas não irá parar sua busca até encontrar algo sobre sua irmã.

Revoltante, catártico e um soco no estômago, o filme é uma obra interessantíssima que vale a pena conferir não apenas pelo enredo, mas pela atuação hipnotizante de Kali.


Filme: Infiltrada: Golpe de Vingança
Direção: Josef Kubota Wladyka
Ano: 2021
Gênero: Investigação / Drama
Nota: 10/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.