Obra-prima escondida na Netflix vai derreter seu coração e o faz com tanta ternura que só resta chorar Chen Hsiang Liu / Netflix

Obra-prima escondida na Netflix vai derreter seu coração e o faz com tanta ternura que só resta chorar

“Tigertail” é um filme escrito e dirigido por Alan Yang e acompanha vários períodos da vida de Grover (Tzi Ma), um taiwanês estabelecido na América. O enredo começa da infância do protagonista, quando é deixado na fazenda de arroz dos avós pela mãe, viúva e desempregada, que tenta se restabelecer para depois buscá-lo de volta. Grover conta da solidão que sentia longe da figura materna e sobre quando conheceu o grande amor de sua vida, Yuan (Joan Chen).

O filme também nos transporta pela juventude do herói da narrativa, quando era um rapaz e trabalhava em uma fábrica em Taiwan com a mãe. Naquele período, ele continuava apaixonado por Yuan, com quem saía para dançar em uma boate local. Mas a vida não era fácil e ele sonhava em ir embora para os Estados Unidos para tentar construir uma vida melhor. É quando seu chefe o faz uma proposta: conhecer sua filha, Zhenzhen (Fiona Fu), em troca dele facilitar sua ida para a América. Prático, Grover aceita a proposta e acaba indo embora para os Estados Unidos com Zhenzhen, deixando Yuan para trás.

Mas a paixão que sentia pela moça que abandonou em seu país de origem o seguiu dentro de seu coração por toda sua vida, mesmo casado e com filhos de outra mulher. Grover constrói uma vida na América, passa décadas com a esposa e, apenas depois que os filhos saem de casa, Zhenzhen anuncia que irá deixar o marido. Os anos de indiferença e solidão finalmente pesaram sobre a mãe de família, que aguentou tudo pelos filhos. Longe de Grover, ela se redescobre como mulher e reencontra o amor, a carreira e a vida. Já Grover usa as redes sociais para tentar se reconectar com a paixão do passado.

Enquanto isso, a filha de Grover e Zhenzhen, Angela (Christine Ko), é deixada pelo marido, Eric (que nunca chega a aparecer no filme). Ao anunciar a separação ao pai, durante um almoço, ela tem a chance de confrontá-lo sobre sua rispidez e insensibilidade. Grover é um homem pragmático e aparentemente racional. Suas emoções nunca sobrepõem à lógica. Por isso, para a filha, ele parece duro, frio e distante. Assim como era com Zhenzhen. Mas a realidade é outra. É como se Grover tivesse congelado no momento em que viu Yuan pela última vez e sua vida tivesse sido apenas um devaneio em que ele está eternamente preso.

Com a separação de Angela e Eric, pai e filha têm a chance de se reconectar por meio de suas desilusões. A má experiência no amor é o fio que os costura e faz com que um perceba a humanidade que há no outro. Antes disso, o relacionamento era mecânico. Quase como se Grover se sentisse obrigado a se relacionar com a filha pelos laços fraternais. Mas, agora, podendo abrir sua história com Yuan para Angela, ele sente como se pudesse acordar daquele devaneio e se descongelar daquele momento em que viu seu amor pela última vez.

“Tigertail” é uma delicada obra cinematográfica de Alan Yang que nos permite desmistificar as figuras paternas e maternas, sempre enxergadas de maneira idealizadas, para o bem ou mal, pelos filhos. Os pais parecem sempre saber o que devem fazer, parecem ser fortes como muralhas, indestrutíveis, imortais e emocionalmente inabaláveis. Obras como “Tigertail” vem para dizer que eles, os pais e mães, também estão em processo de evolução, descoberta e construção. Eles também se sentem tristes e inseguros, com medo e fragilizados. É necessário que os pais se assumam humanos e erráticos para que os filhos aprendam a perdoá-los.


Filme: Tigertail
Direção: Alan Yang
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 9/10