O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei

O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei

“Quantas perdas cabem ao longo da vida de uma mulher?” é a primeira frase da contracapa de “O Peso do Pássaro Morto”, livro de estreia de Aline Bei, e que batismo! A protagonista começa sua narrativa aos 8 anos de idade, passando por uma adolescência conturbada, que vai impactar o resto de sua vida, em um ciclo que ela não consegue romper. A linguagem amadurece junto com a narradora.

É uma história sobre perdas: da inocência, da esperança e de pessoas — por meio da morte física e dos laços afetivos —, que acaba culminando na perda de si mesma. Diante de tantas ausências acumuladas, a leitura torna-se amarga e melancólica. Ao longo da jornada a protagonista tenta se reconstruir, alcançar a redenção, buscar a cura para sua alma sedenta.  Porém, mais uma vez, ela tem suas expectativas destroçadas.

O projeto gráfico do livro é original e belo, vai além das palavras. Figuras de linguagem e antíteses saltam aos olhos, e sua suavidade contrasta com a crua dureza da narrativa.

Precocemente, na infância, a protagonista profetizava que “a cura não existe”. Terminamos o livro cheios de angústia e sem encontrar a cura: a autora atinge o objetivo de transmitir os sentimentos da personagem como se estivéssemos ali com ela, como se a superfície do papel fosse um pedaço de nossa própria vida. O livro é narrado quase todo em primeira pessoa, mas não sabemos o nome da protagonista. Sem nome, ela pode ser qualquer mulher, uma de nós. O peso é enorme.