A Filha Perdida, de Elena Ferrante

A Filha Perdida, de Elena Ferrante

Que meu filho só me leia quando adulto porque, na altura do campeonato, não dá mais pra mentir: ser mãe, às vezes, é também muito chato. E as mães sinceras com elas mesmas não vão achar que devo fazer grandes descrições comprobatórias. É chato. Ponto.

Chatura admitida, também é interessante começarmos a entender por que é tão difícil falar sobre isso. Por que romantizamos a maternidade? Esse assunto dolorido e complexo já rende por aí livros e mais livros. Mas essa tentativa de análise talvez se mostre pesada demais em obras especializadas.

Ferrante escreve como se estivesse aqui, na mesinha da minha sala tomando um café. A leitura é leve, rápida e fácil como papear com uma amiga. Mas como nos outros livros, isso é uma estratégia: depois de envolvido nessa leveza, você se vê de cara com uma sombra ou um monstrão. Ou com a frase: “As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender”.

A Filha Perdida é um soco no estômago, mas também é um alento. Embalados em ondas de lembranças que intercalam a observação de eventos que se desenrolam numa praia do Mediterrâneo, Elena Ferrante nos guia no processo de transpor camadas de fantasia escapista para encaramos de forma brutalmente sincera a ambivalência da maternidade.

A leitura me levou a ponderar sobre as semelhanças das angústias reais das mães e assim, de alguma forma, me senti menos só. Afinal não é um monstro, é só uma sombra.

Tainá Corrêa

É publicitária.