Corações Ruidosos em Queda Livre, de Alex Sens

Corações Ruidosos em Queda Livre, de Alex Sens

De antemão, preciso enfatizar uma agradável curiosidade sobre o Alex Sens. A cada encontro com algum de seus escritos, é provável sentir um certo assombro diante da originalidade poética dos títulos. “O Frágil Toque dos Mutilados”. “A Silenciosa Inclinação das Águas”. “Corações Ruidosos em Queda Livre”. Belos, não?

O último citado compõe-se de três contos, tão pungentes quanto incômodos, permeados pela mesma temática: a morte. Me percebi ávida, numa leitura em ritmo de queda livre, na ânsia de descortinar os recortes narrativos elegantemente construídos por Sens, e de perscrutar os tênues pontos de ligação entre eles.

Corações ruidosos. O primeiro conto é um mergulho no turbilhão de pensamentos dos passageiros de um ônibus. O texto flui vertiginoso, se equiparando à velocidade do veículo em movimento, e pegamos carona no incessante fluxo de consciência dos ocupantes de cada um de seus assentos. Movimento em movimento. Genial.

Em queda. Na sequência, assoma-se uma insólita narrativa acerca de uma galeria que mercancia espetáculos, digamos, funestos. Uma galeria de suicídios. Isso mesmo, os frequentadores compram ingressos para assistirem às pessoas tirando as próprias vidas. Nas entrelinhas desta camada kafkiana, fica o alerta quanto ao ritmo insensato, beirando ao insano, com que a sociedade moderna espetaculariza tragédias de todas as ordens.

Livre. Por fim, o terceiro conto, meu preferido, nos revela as missivas cáusticas assinadas por uma escritora amargurada. Leonor — que muito me lembrou a espirituosa Magnólia de “O Frágil Toque dos Mutilados” — retira a máscara da dissimulação e resolve disparar, contra todos os seus desafetos, comentários jocosos, agressivos e tão sutis quanto um vulcão em erupção. Um desvario provocante e quase obsceno. Prepare-se para o final, um susto!