Não basta ser cinéfilo. Os filmes que amamos fazem parte do roteiro de nossas vidas

Não basta ser cinéfilo. Os filmes que amamos fazem parte do roteiro de nossas vidas

Lembro-me de quando meu pai trouxe pra casa o nosso primeiro videocassete. Meu irmão e eu ficamos curiosos para saber o que era aquela caixa retangular de metal cinza que tinha deixado o papai tão empolgado. Depois de instalado o aparelho, meu pai colocou a fita VHS que viera junto e assistimos a uma mulher explicando como funcionava aquela modernidade.

Fiquei impressionada com o controle remoto, que era conectado por um fio ao videocassete. E fiquei mais empolgada ainda quando descobri que podia gravar os filmes que passavam na TV. Foi assim que nasceu em mim um novo prazer: assistir ao mesmo filme várias vezes!

São tantos os filmes que marcaram a minha vida que seria impossível enumerá-los todos. Porém alguns fazem parte das lembranças da casa em que morei até os 11 anos (a casa onde tivemos o primeiro videocassete). Um deles é “A Noviça Rebelde”, a que assisti incontáveis vezes com os meus irmãos. Gostávamos tanto do filme que brincávamos de imitar as músicas da trilha sonora (éramos quatro crianças von Trapp!). Certa vez, ensaiamos “So Long, Farewell“ e a apresentamos aos nossos pais. Minha irmã mais nova imitou a caçula Gretl e cantou que o sol já tinha ido dormir, então nós iríamos também.

“Os Goonies”; “A Lagoa Azul”; “Gremlins”; “Querida, Encolhi as Crianças”; “Duro de Matar”; “Olha Quem Está Falando”; “E.T. — O Extraterrestre”; “História Sem Fim”; as sequências de “Tubarão”, “Superman”, “Indiana Jones”, “Karatê Kid”, “Rambo” e “Rocky”. Esses são alguns dos filmes a que também gostávamos de assistir repetidamente.

Eu me vestia com collant e polainas para imitar a bailarina de “Flashdance” em frente à TV. Filmes a que assisti com meus pais também me marcaram, e um deles foi “E o Vento Levou”. Eu achava lindo ver minha mãe emocionada com a trama de Scarlett O’Hara e Rhett Butler.

Dia desses, num domingo à tarde, estava na sala de televisão com meu pai e um dos meus irmãos. Começou a passar o primeiro filme de “De Volta Para o Futuro”, e o assistimos pela enésima vez. Rimos (como rimos há cerca de 30 anos) das confusões do Dr. Emmett Brown e de Marty McFly. E nos divertimos por sabermos a frase que seria dita em seguida por algum personagem.

Ter dois irmãos meninos me levou a assistir a vários filmes de luta (e eu adorava). Até hoje, quando ouço “Eye Of The Tiger”, sinto a mesma garra do Rocky Balboa treinando e correndo. Tenho até vontade de correr na escadaria do Museu de Arte da Filadélfia.

Vira e mexe sinto a rebeldia dos garotos que subiram nas mesas, durante uma aula, em “Sociedade dos Poetas Mortos”. E quando preciso encontrar esperança frente a algum horror incalculável, penso no bom humor do judeu Guido em “A Vida é Bela”.

Rever nossos filmes preferidos é como fazer uma viagem através do tempo. Relembramos um pouco da emoção que tivemos ao assisti-los pela primeira vez e, algumas vezes, até recordamos quem estava conosco e onde estávamos: os primos espalhados no chão da sala, os amigos na sala de cinema ou a família reunida (e espremida) na cama dos pais.