Perdoar não é fácil, mas é o melhor jeito de libertar e aliviar a alma

Perdoar não é fácil, mas é o melhor jeito de libertar e aliviar a alma

Perdão. Seis letras e um til capazes de carregar para fora do corpo o peso do rancor e das mágoas, curando a alma machucada daquele que o pratica. Em sua origem latina, a palavra significa literalmente “entrega completa”, “doação total”. O perdão, portanto, beneficia muito mais o emissor do que ao recebedor.

Pode reparar. Gente que coleciona e cultiva mágoas é raivosa, amarga, ressentida e, como dizem os chineses, “cava duas sepulturas”. É como morrer aos poucos e em dobro, com o coração árido e impermeável. Essa prática, no entanto, está mais relacionada à razão do que à emoção. No cardápio de sentimentos, conhecemos amor, raiva, tristeza, alegria, rancor, euforia, ódio, esperança, desprezo… Mas ainda não se catalogou um sentimento relacionado ao ato de perdoar. É algo sofisticado demais para depender de corações ainda tão fracos e instintos grosseiros, então a cabeça precisa compensar tal vala.

A verdade é que o perdão é a prova de que a humanidade racionalmente aceita o erro e a misericórdia do homem pode redimir suas tolices. Perdão é inimigo de orgulho e caminhamos a passos de formiga para superar essa vileza, mas ao menos existe a consciência de que os impiedosos pecados capitais vivem a nos assombrar. Conhecer as limitações é o primeiro passo para combatê-las.

A novidade é que, além de benefícios psicológicos, o ato de perdoar tem o poder de produzir também efeitos físicos. Já se sabia que vitamina, exercício, terapia e boa alimentação eram importantes aliados da saúde. O que agora se descobriu foi que ao perdão ao próximo e a si mesmo é um ingrediente fundamental — e bem menos objetivo — capaz de nos levar a um verdadeiro nirvana. Desculpar ofensas ganhou uma fatia do mercado de bem-estar e vem sendo prescrito como um remédio por pesquisadores de ponta, já que, segundo eles, ajuda a melhorar a condição cardíaca, reforçar as defesas do organismo e combater o estresse.

Aquele que perdoa, porém, deve autoconvencer-se de sua decisão e não precisa esquecer o que se passou. Esse remédio não admite genéricos. O esquecimento não ajudaria e apenas conduziria de volta à estaca zero. Nada melhor do que a sensação genuína de se lembrar, com a alma lavada e tranquila, do que passou. É como que deixar o passado morar no passado e o presente carregar o fresco ar da renovação.

Perdoar não é fácil, mas deixa ir embora muito da dor que assombra o lado escuro das pessoas.