Sensibilidade é quando olhamos o nosso avesso e enxergamos a dor do outro

Sensibilidade é quando olhamos o nosso avesso e enxergamos a dor do outro

Todo mundo sabe o quanto o ser humano pode ser cruel. Dos nossos livros de História até as notícias dos jornais de hoje, as mesmas maldades perpetuam ao longo de vários séculos e gerações. Genocídios. Massacres. Estupros. Preconceito. Às vezes, quem não gostaria de ser menos sensível? Não é fácil carregar a dor do mundo em um só coração.

Para não pensar muito em tanta coisa ruim, vamos à rotina. Começa mais um dia.

No café da manhã, a mãe grita com o menino que derruba a caneca de leite na toalha da mesa. Ao chegar ao colégio, o menino xinga os colegas de classe e empurra a professora que tenta acalmá-lo. A professora engole a frustração enquanto dirige para casa, e berra e buzina pro ‘idiota’ à sua frente que não viu o sinal ficar verde.

O moço que recebeu a buzinada chega ao seu condomínio e é grosseiro com o zelador que varre o chão. O zelador, após o expediente, senta-se na vaga preferencial do ônibus e ignora a moça amamentando o bebê em pé ao seu lado. A moça chega em casa e chora.

Seu lamento não é pelo cansaço. É que ela se lembrou de quando tinha pouca idade e muita inocência, nenhum desafeto e vários sonhos impossíveis; e o mundo parecia rodar mais devagar. Não havia internet nem aplicativos, parecia não haver guerras e nem amargura; havia rodas de violão, acampamento no meio da sala e futebol de botão.

Então ela cresceu e encontrou um mundo diferente, povoado por pessoas que não pensam duas vezes antes de passarem desamor para frente. A moça chora sua dor da compreensão. Que mundo é esse que ela está deixando para o seu filho?

Crescer é entender o que não faz sentido. Crescer é pensar nesse tempo de dores e mortes e lama. Como pensou Vinicius de Moraes “nas crianças mudas telepáticas”, e cantou Ney Matogrosso as nossas “feridas como rosas cálidas”; como pensamos em toda guerra de cor púrpura e em toda gente que tem sede de água pura.

Há algo em nós que é barco afogando-se no rio lamacento de dores nossas e alheias… Há algo em nós que se chama desesperança, que escurece nossos dias mais difíceis e nos afasta uns dos outros.

Mas também carregamos dentro da alma uma luz que surge através destas nuvens sombrias: o nome dela é fé. Esta fé que nos possibilita seguir viagem. A sensibilidade aflorada é a pior e a melhor coisa que temos em nós. A maldade do ser humano nos faz sofrer, sim. Mas também nos fortalece. Ao olharmos a vida através de nossos sentidos, podemos ser uma pessoa melhor a cada dia.

Parece impossível que a humanidade um dia encontrará a paz. Pode ser difícil entender por que o ser humano é capaz de tanta crueldade. Desanima pensar que, nem com todos os erros, o homem irá mudar.

A vida pode ser um tanto áspera nas beiras, mas é linda quando se olha por dentro. Aqui, em cada um de nós, existe a força e a coragem necessárias para suportar tantas desgraças. E, se existe tal força, é porque acreditamos. É assim que passamos uma mensagem de esperança e amor para frente.