Meu coração é uma selva com animais inquietos

Meu coração é uma selva com animais inquietos

Abelhas diabéticas refugam flores. Andorinhas solitárias unem-se para fazer ao menos um verão. Prolifera a cada dia a revoada crepuscular dos joões-de-barro em prol de casas próprias nos galhos das paineiras. Por causa do atropelamento de coirmãos nas rodovias, tamanduás-bandeiras remanescentes balançam as caudas tristes a meio mastro. Formigas cabeçudas drogam-se com DDT e saem cantarolando pela Abbey Road: “Todos vivemos num sítio do pica-pau amarelo, sítio do pica-pau amarelo, sítio do pica-pau amarelo…”. O sinistro ministro das Minas e Energias reconhece que o governo tomou bola nas costas e estuda iluminar as cidades com enguias elétricas, uma vez que os vagalumes já sofreram apagão. Além de anularem os votos em sinal de burrice e protesto, as cobras-cegas exigem a volta imediata dos militares ao comando dos paus-de-arara. Domingo à tarde rola tatu-bola no Maracanã. É fato: anus-pretos caem mais em alçapões do que anus-brancos. Baratas pagam caro ao serem pisoteadas por madames na Oscar Freire em São Paulo. Pode parecer uma medida inócua, mas, beija-flores com herpes labial são proibidos de sobrevoarem canteiros de begônias mortas na Síria. Vacas-estrelas brilham na Broadway com o musical Moulin Muge. Cresce devagar-quase-parando a expectativa pela maratona dos sem metros rasos para bichos-preguiças. Bichas-da-seda são as mais requisitadas pelas grifes da alta costura em todo o mundo. Médicos veterinários advertem que a maioria dos cágados sofre à beça com prisão-de-ventre. Viciados em jogos, que perderam tudo e suicidaram no mar, apostam até o último centavo em cavalos marinhos. Comprovado: hienas com depressão comem mais carniça. O Ministério da Saúde adverte: escutar o canto das cigarras não faz mal nenhum à saúde, muito pelo contrário, pode até salvar vidas. Mesmo que possuíssem cloacas, e por mais que as crianças exigissem, os coelhos da páscoa jamais botariam ovos de chocolate. Sem medo da loucura, os condores dos Andes continuam, não apenas voando, mas, sonhando alto. Anúncios classificados dão conta que os cassinos estão contratando corujas-buraqueiras. Em aparição relâmpago num relâmpago, Deus anuncia que anistiará os diabos-da-tasmânia para que entrem todos de mandíbulas dadas no paraíso. O Discovery Channel garante que há, sim, dromedários com sede de justiça no Brasil. Uma manada de elefantes brancos da última gestão foi requisita para pisotear empreiteiros desonestos numa marcha até Brasília. A lei do cão já permite que esquilos voadores que não possuam brevê invadam o espaço aéreo dos manicômios. Estrelas-do-mar requerem um lugar ao céu para finalmente saírem das profundezas do anonimato. Bomba! Bomba! Bomba! Paquidermes com trombas admitem que, infelizmente, tamanho não é documento. As menores rolinhas voam sempre do Japão. A despeito do amor ser uma coisa incrível, namorados são fritos em plena quaresma por cozinheiras sem coração. Indústrias de perfumes faturam alto com a desgraça dos gambás. Isso não faz parte da piada! É sério! Venham comigo! Estão mesmo afogando gansos na lagoa! Cirurgias bariátricas para baleias-azuis são consideradas um fiasco. De olho no mercado, editora lança coleção primeiros passos para centopeias energúmenas que marcharam em favor de um novo golpe de estado. Micos-leões-dourados lotam divãs da Mata Atlântica para saberem de uma vez por todas se são micos, se são leões, e se possuem mesmo um brilho especial. A eleição majoritária de marmotas no último pleito deixa o Congresso Nacional, não apenas mais burro e conservador, mas muito mais hilário. Batman conclui que morcegos são camundongos que ousaram sonhar. As onças pintadas estão secando ao sol. Turistas surpreendem-se com o último orangotango em Paris. Se depender do velho pescador de Ernest Hemingway, as orcas assassinas irão mesmo a júri popular. Ornitorrincos com crises existenciais profundas cadastram-se para cirurgias de mudança de espécie. A maioria das ostras só deseja alguém com quem possa se abrir. Ovelhas negras das famílias são deserdadas e por isso mesmo passam muito bem. Pesquisa confirma que milhões de perus suicidam às vésperas do natal. Especialistas em hemorroidas racham de ganhar dinheiro com pacus e pirarucus. Sejam da situação ou da oposição, bancadas de deputados criados fora do cativeiro preferem robalo. Ao invés das meias, ex-senador da república pistoleiro-matador faz uso indevido de cangurus para carrear uns punhados de dólares. Isso não existe: em busca do homem perfeito, princesas beijoqueiras contraem sapinho na lagoa. No auge da loucura e do descontrole, no clímax do ato sexual, as lagartixas exigem se faça tudo com elas, que sejam jogadas contra a cama e chamadas de mulher. O sonho de qualquer piolho é penetrar num crânio para dominar o mundo. Não é que eles sejam uns pássaros antipáticos irritadiços, os quero-queros só querem se sentir mais queridos pelos seres humanos. Estou ficando mais velho, frio, puto e esquecido: pintou aquela amnésia na memória rã. Esqueçam tudo o que eu já escrevi; sou menos confiável que um urso bipolar ártico. Melhorem o planeta, emprestem um peixe-espada pro meu harakiri.