Chega de inventar saudade. Vamos amar de novo

Chega de inventar saudade. Vamos amar de novo

Como deixar de amar alguém? Como aprender a dizer adeus? Pois é, toda vez que um romance acaba, quando fomos nós os deixados para trás ou se terminamos porque não dava mais certo ou porque o momento não era para ser, e mesmo assim ainda gostamos da pessoa que partiu, é como se o jardim da nossa alma tivesse repentinamente todas as suas flores arrancadas e no seu solo rachado restassem nada mais que as saudades que não sabemos como e nem onde replantar para voltarmos a viver.

Talvez, porque dar atenção ao que nos faz falta e machuca e muitas vezes não compreendemos, paramos nossa vida e passamos a viver no automático, como “acordar, trabalhar e dormir”, para não termos que pensar em mais nada.

Mas, quando estamos sozinhos, deitados em nossa cama à noite, em nosso lençol limpo e macio, na cama grande e vazia, ouvindo o silêncio inquieto, vendo o teto branco e infinito e pensando nas lembranças guardadas em caixas, dobradas em prateleiras da memória, outras vezes esquecidas nos gavetas da indiferença, vem aquele desejo de sentir de novo o perfume das rosas e dos lírios no canteiro do nosso amanhecer.

Então todas as perguntas sem respostas invadem silenciosas pelo vão da porta do nosso quarto escuro. Temos que abrir mão de nossas saudades? Como desamar alguém? Há como aprender isso? Acho que não, mas podemos tentar.

Proponho voltar a viver sem medo do escuro do quarto vazio. Levantar da cama e encarar a vida como mais um dia, e parar de achar que só porque a pessoa que partiu não voltará que nosso mundo acabou. Não! Temos tanto a fazer. Além de construir em nossos trabalhos, ainda temos um mundo a conhecer, lugares onde pessoas novas nos esperam e paisagens inimagináveis aos nossos olhos nos aguardam.

Não estou dizendo que devemos encaixotar os momentos felizes vividos as dois e jogá-los ao fundo do mar para serem esquecidos para sempre, até porque há histórias que simplesmente não se acabam, elas se eternizam dentro da gente. Acontece que depois que a pessoa amada partiu, ela deixa para trás uma quantidade enorme de filmes e fotografias que, se não aprendermos como separá-los dentro da gente, enlouquecemos.

Por isso, chega de borrar o filme de um passado tão bonito. Chega de pesar o que já deixou de ser. Olhe, neste quarto não há mais realidade, só retratos e a velha nostalgia do que foi aquele amor. Veja, a escova de dentes morreu sozinha sobre a pia na madrugada fria. Sim, já faz tempo que toda noite inventamos saudade!

Faremos um trato, juntos, brindemos a liberdade e seremos todos firmes nesse novo cântico do bem-querer. Mesmo com medo, sejamos contentes nas velhas saudades e sonhemos novas possibilidades até o amanhecer. Cantando, o coração deseja que o partido voe ao infinito, a lugares antes nunca idos, até pousar no jardim onde uma flor nascerá outra vez.

Para isso, mandemos a tristeza embora. Que ela percorra a maresia, siga sua sina, sopre essa vela, ore se preciso e chore se doer. Reme diante da maré alta, transforme fé em suas ondas, com toda sua honra e vontade de viver. Reme; avance; insista; mas não pare nunca. Vá até encher. Ao se transbordar, alivie suas dores e descubra suas cores, mas não demore muito porque a vida não espera. Desapegue e chega de inventar saudade.

Aqui, ficamos com a alegria. Com ela, plantaremos sementes nunca plantadas. Ouviremos canções inesperadas e dançaremos com a solidão. Criaremos palavras novas e faremos poemas com o impossível. Aos poucos, voltamos a viver. E nessa nova vida, já podemos ver que o amor é semente sonhando dentro do peito esperando sua nova flor nascer.