Das nossas escolhas ficam as saudades e o dia seguinte

Das nossas escolhas ficam as saudades e o dia seguinte

Certa vez, uma moça tirou férias de suas dúvidas e atracou seu barco num lugar distante para assistir ao pôr do sol. O astro dourado cada vez mais se recolhia. À moça, restava contemplar a sua despedida.

Quase sempre há alguém partindo de nossas vidas. Ou somos nós que estamos deixando algo para trás. Ela via aquele sol, já quase se pondo, como braços que já a aqueceram nos seus dias de inverno. Ou seus próprios olhos que outrora iluminaram outros caminhos. Vê-lo ir embora lhe dava certa nostalgia, mas ela entendia que chegara a sua hora.

Olhou para cima e não havia estrelas. A lua ainda não chegara. Uma brisa fria foi de encontro ao seu rosto e arrefeceu-lhe. Os outros barcos atravessavam o mar pra lá e pra cá, indiferentes a ela, pois a vida marítima sempre continua. Então, ao crepúsculo a moça ofereceu-lhe a sua solidão.

De repente, em meio àquele silêncio doloroso e à sua escuridão, um, dois e três bravos estouros iluminaram o céu. Conforme os rojões dançavam o esplendor de todas as cores e explodiam com euforia, a moça sentia sua alma se aquecer.

Ela descobriu que a queima de fogos de artifícios era uma homenagem ao Redentor, o padroeiro daquela cidade. Por acaso, ela fora passar uma noite naquele lugar. Um lugar que encheu o coração da moça de saudade e que tinha uma festa no céu. E assim, ela entendeu que a saudade de todo amor e das pessoas que já se foram e suas lembranças a manteriam viva. Ela viveria para cada novo momento e para esperar pelo quê ainda está por vir.

Naquela noite ela não dormiu. Depois da queima de fogos, sentou-se na beira da praia onde estavam outras pessoas aguardando o sol nascer. Ouviu uma gaivota que vinha de longe, bem longe voando sozinha, e mergulhou no ar com tanta leveza, bateu suas asas com tamanha imponência que a moça voou junto com ela.

Porque há fases na vida em que o tempo vai mesmo se fechar. Então, sua festa no céu acabará. Mesmo assim, precisamos seguir em frente. Sempre em busca de novas festas e novos céus, olhando as pequenas coisas que nos dão alegria. Como um estouro de rojão, o voo de um pássaro ou uma flor que nasce.

Na queima de fogos, a moça olhou para suas saudades e agradeceu as pequenas alegrias da vida. Ela percebeu que redimir-se de suas dúvidas é um ato de coragem que precisa ser praticado todos os dias.

Navegamos neste mar imenso chamado vida que vem com os altos e baixos das suas ondas. Mas podemos refazer essa maré, afinal, somos comandantes da nossa esperança.

Da praia, a moça viu lá no horizonte a alvorada. O sol sempre volta. O novo sol está chegando.