Ensaios

Meus encontros com Kafka

Meus encontros com Kafka

O romancista de “O Processo” é, para alguns, o satírico que zombou da burocracia austríaca; e para outros o profeta das contradições e do fim apocalíptico da sociedade burguesa; e para mais outros o porta-voz da angústia religiosa desta época; e para mais outros o inapelável juiz da fraqueza moral do gênero humano e do nosso tempo; e para mais outros um exemplo interessante do Complexo de Édipo, etc., etc., etc. Tudo, em torno de Kafka, é equívoco. Equívoco também foi aquele meu primeiro encontro com ele.

Poesia Reunida, de Edival Lourenço — a trajetória de um poeta

Poesia Reunida, de Edival Lourenço — a trajetória de um poeta

Primeiro, é preciso situar o autor destes poemas: trata-se de um dos maiores prosadores da literatura feita em Goiás, e vai além: é um dos grandes prosadores contemporâneos da literatura brasileira. Goiás sabia disso desde o lançamento de seu romance, “Centopeia de Neon”, que merece e carece de uma edição e divulgação nacionais. É um crime que o Brasil não conheça uma de suas maiores obras em prosa feita na década de 1980. “Naqueles Morros, Depois da Chuva”, romance histórico, rico na arte de fabulação, foi agraciado com o Prêmio Jabuti, o mais reconhecido e valorizado do mercado editorial.

Livros para ler numa ilha deserta

Livros para ler numa ilha deserta

Escrevi aqui na Bula sobre a Belo Horizonte dos escritores modernistas e, por isso, muitas pessoas ficaram curiosas em relação a Pedro Nava, pouco conhecido atualmente. Nada de novo no front: Nava, autor de seis magníficos livros de memórias, louvado pelos colegas escritores até, creio, o final da década de 80, foi depois esquecido pelos intelectuais brasileiros e parece não despertar muito interesse naqueles que poderiam divulgar a sua literatura.

Lester Bangs, o santo beatnik da crítica

Lester Bangs, santo beatnik. Morreu em 1982, aos 33, idade de Cristo. Não foi crucificado, mas certamente alçado à cruz do jornalismo, no subgênero gonzo, de qualidade extremamente contestada, ainda que tenha saído do ventre do new journalism (Tom Wolfe, Gay Talese, Truman Capote). A exemplo de Hunter S. Thompson, escreveu motivado por substâncias psicotrópicas, em fluxo vertiginoso, e pôs-se, muitas vezes, à frente do próprio objeto do texto — e quem não está, prisioneiro de sua própria subjetividade, em posição soberana ao alvo da análise?