Crônicas

Ame todas as vezes como se fosse a última

Ame todas as vezes como se fosse a última

Final do ano chegando. Entre promessas, mandingas e orações, à zero hora do novo ano estamos a pedir encarecidamente a providência do sucesso. Fico pensando como deve ser tensa a galera do lado de lá, anotando milhares e milhares de pedidos, vindos de toda parte do planeta. Imagino uma imensa bolsa de valores. Gente ao telefone, gesticulando, correndo com suas cadernetas, desesperados, de um lado para o outro.

Que me perdoem os shakes de proteína, mas churro de doce de leite é fundamental

Que me perdoem os shakes de proteína, mas churro de doce de leite é fundamental

Quão politicamente incorreto é defender hambúrgueres e maldizer a rúcula em tempos de sedentarismo e doenças decorrentes da ingestão de besteiras a bel-prazer? Então priorize a saúde. Mexa o corpo. Evite enlatados, conservantes, corantes. Coma alface. E fibras. Beba água. Use filtro solar (ops, essa é outra história). Mas permita-se compensar o suor das aulas de jump com taças de vinho. Não há mal no torresmo de fim de semana. Se sentir algo diferente no peito, os invejosos dirão que é o miocárdio mandando um sinal. Explique que é só alegria.

O Ministério da Saúde adverte: para viver bem é só ligar o foda-se!

O Ministério da Saúde adverte: para viver bem é só ligar o foda-se!

Já queimei o arroz, o couro cabeludo, os pés na areia quente, o corpo até dar bolhas. Já queimei foto do ex, o meu próprio filme, e a cabeça de tanto pensar. Queimei de ódio e de vergonha. Ah, queimei. Já saí sem hora para voltar, sem juízo, sem sutiã, sem perfume, celular, chave de casa, protetor solar. Já menti para a minha mãe quando disse que nunca fui a um baile funk, para o meu pai quando jurei que nunca tinha beijado, para o meu chefe quando supostamente adoeci na quarta-feira de cinzas.

Por que os pombos borram nas pessoas?

Por que os pombos borram nas pessoas?

Porque não damos mais asas aos sonhos. Porque quebramos um átomo, mas remendamos ciclos viciosos. Porque tratamos o dinheiro com mais respeito que ele merece. A vida não aceita desaforos, companheiros. Porque pagamos propinas. Porque fazemos sexo com meninas. Porque não criamos os filhos para serem diferentes de nós. Porque abandonamos os velhos agonizando nos redemoinhos da saudade e da memória.