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A má notícia é que há trombadinhas em Paris

A má notícia é que há trombadinhas em Paris

Má notícia para mim, que nunca tinha pisado na Europa. Não vou ficar me gabando por, finalmente, ter conhecido Paris. Sou fraco em vaidades. E tenho plena consciência de que isso, viajar para fora do país, é privilégio para poucos brasileiros, ainda mais num cenário econômico e cambial extremamente desfavorável. Agora, no momento em que escrevo essa crônica, são necessários 6,5 reais para se comprar 1 euro. Quer dizer, só rico, doido ou abnegado para enfrentar uma viagem até a França, num contexto tão inóspito.

A biblioteca mais estranha do mundo: onde os livros são enterrados no tempo e ninguém pode reler um só título antes de 2114

A biblioteca mais estranha do mundo: onde os livros são enterrados no tempo e ninguém pode reler um só título antes de 2114

É difícil imaginar um livro que ninguém nunca leu — e que ninguém vá ler por, pelo menos, cem anos. Um livro trancado, invisível, silencioso. Um texto que respira apenas em segredo, como cápsula ou testamento. Pois existe um lugar assim. Fica na Noruega. E tem sido chamado, com certa fascinação inquieta, de a biblioteca mais estranha do mundo. O projeto foi criado em 2014 pela artista escocesa Katie Paterson, conhecida por transitar entre arte, tempo e ecologia de modo quase ritualístico. A ideia é simples e radical: durante cem anos, um autor por ano entrega um manuscrito inédito. Nenhuma dessas obras será lida, publicada ou revelada até 2114.

20 poemas para quando tudo cair — e tua mãe ainda estiver lá

20 poemas para quando tudo cair — e tua mãe ainda estiver lá

Este poema nasceu da queda. Não de uma só, nem de uma grandiosa — mas de várias, sucessivas, discretas, daquelas que não fazem barulho nem pedem socorro. Quedas pequenas, mas fundas. De fé, de nome, de lugar, de voz. Às vezes, ninguém nota. Às vezes, nem quem cai se dá conta. Só mais tarde, quando o corpo volta a caber, percebe-se que algo o sustentou no escuro. Este poema fala disso. Das vinte vezes em que você caiu — ou poderia ter caído — e havia ali, mesmo que em silêncio, uma presença anterior à palavra: tua mãe.

Talvez o algoritmo não esteja nos escondendo. Talvez só esteja nos ensinando a desaparecer

Talvez o algoritmo não esteja nos escondendo. Talvez só esteja nos ensinando a desaparecer

Quando milhares de sites brasileiros — culturais, jornalísticos, científicos — viram sua audiência evaporar sem explicação, sem erro, sem aviso, o que se revelou não foi uma falha no sistema. Foi o próprio sistema funcionando com exatidão. O Discover foi vendido como uma ferramenta de descoberta. Mas a descoberta exige risco, exige abertura ao que é novo, ao que não se esperava, ao que talvez desconcerte. Isso dá trabalho. Não converte. Não segura o dedo rolando por 12 segundos. Então a curadoria virou conforto. E o conforto virou código. Mas o problema não é só o conteúdo leve. O problema é a reorganização secreta da superfície da internet.

Salmo de um pagão, de número 69 — dr. Alonso Monteiro da Silva

Salmo de um pagão, de número 69 — dr. Alonso Monteiro da Silva

Um médico boêmio, um jardineiro tardio, um humanista convicto. Alonso Monteiro da Silva viveu como poucos ousam: entre a leveza das madrugadas e a gravidade da Medicina, sem jamais perder a integridade. Descobriu lesões que salvaram vidas, fundou instituições, acolheu pacientes com afeto e colegas com riso. Preferia estar presente a ser lembrado — e, mesmo assim, é inesquecível. Viveu 69 anos, mas carregava séculos nos olhos. Esta é uma homenagem a quem transformou a existência em arte imperfeita e inteira.