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Meridiano de Sangue: o épico brutal que redefiniu a literatura dos últimos 50 anos

Meridiano de Sangue: o épico brutal que redefiniu a literatura dos últimos 50 anos

De algum jeito, talvez porque os olhos insistem em parar naquelas frases que sangram, é impossível não ter a sensação de que o livro está nos lendo enquanto fingimos lê-lo. Há palavras como lâminas, mais precisas do que confortáveis, narrativas feitas de silêncio e pó. “Meridiano de Sangue” não explica. Recusa explicar. Como um sonho febril, escapa quando se tenta descrever; não há chão, nem mapa, nem certeza. Há somente algo que sussurra continuamente por trás das páginas: não estamos seguros; nunca estivemos. E o que restar depois disso talvez nem importe tanto.

Homens são autores. Mulheres precisam provar que são

Homens são autores. Mulheres precisam provar que são

É sempre assim. Quando o nome de um homem aparece na lombada, a estante se enrijece. Há um eco silencioso — feito de resenhas passadas, mesas redondas, cátedras enferrujadas — que sussurra antes mesmo da primeira linha. O livro ainda nem foi lido e já é importante. Já é obra. O autor já é Autor. Um homem que escreve não escreve: atesta. Não precisa pedir licença para entrar na tradição; ela já está posta à sua espera, cadeira cativa, copa servida, currículo pronto. Escrevem como se soubessem que o mundo os lê com crédito antecipado. E talvez saibam.

A nova pureza: como a ideia de ser moralmente irrepreensível está nos consumindo

A nova pureza: como a ideia de ser moralmente irrepreensível está nos consumindo

Vivemos numa época em que cada palavra, cada gesto ou silêncio querem dizer muito mais do que podemos supor. A moralidade transforma-se a uma velocidade que poucos acompanham, e as ideias de bondade e correção passaram de atributos privados a um show, a ser apresentado em praça pública. Deslizes supostamente tragados pela bruma corrosiva do tempo voltam à superfície e custam empregos, patrocínio, carreiras, reputações.

O bordado africano de Mia Couto Foto / Companhia das Letras

O bordado africano de Mia Couto

Existe hoje um mercado muito ativo de livros, autores e leitores no chamado Atlântico Sul. Um vai-e-vem em língua portuguesa, formando um triângulo literário entre europeus, brasileiros e africanos. Essa circulação de ideias, experiências e formas narrativas tem produzido uma constelação de obras que escapam dos antigos centros coloniais e renovam o idioma comum com vozes múltiplas e enraizadas em realidades muito distintas.