Autor: Carlos Willian Leite

O jantar mais constrangedor da literatura moderna: o dia em que Joyce e Proust dividiram a mesa — e a antipatia em silêncio

O jantar mais constrangedor da literatura moderna: o dia em que Joyce e Proust dividiram a mesa — e a antipatia em silêncio

Em 18 de maio de 1922, em Paris, dois dos maiores escritores do século 20 sentaram-se à mesma mesa — e nada aconteceu. James Joyce, recém-publicado com “Ulysses”, e Marcel Proust, em seus últimos meses de vida, mal trocaram frases. O jantar no Hôtel Majestic, que também reuniu Stravinsky, Picasso e Diaghilev, entrou para a história justamente pelo vazio que deixou. O que poderia ter sido uma conversa entre titãs tornou-se uma anti-epifania literária. Nesta reportagem, o silêncio entre eles é escutado de perto: como gesto, falha, sintoma — e talvez, destino.

A alucinação de Belchior era desaparecer: o disco que previu sua fuga e escreveu seu silêncio, 50 anos antes

A alucinação de Belchior era desaparecer: o disco que previu sua fuga e escreveu seu silêncio, 50 anos antes

Muito antes de deixar os palcos e desaparecer dos holofotes, Belchior já preparava sua saída nas entrelinhas de “Alucinação”. Lançado em 1976, o disco completa 50 anos em 2026 como um marco da música brasileira e como o registro mais íntimo de um artista que não queria permanecer. Esta reportagem percorre sua trajetória desde Sobral até o silêncio final em Santa Cruz do Sul, passando por obras como “Coração Selvagem” e “Todos os Sentidos”. “Alucinação” não foi só ruptura estética, mas profecia pessoal. Belchior cantou sua própria fuga, com clareza desconcertante, quando ainda ninguém estava ouvindo direito.

O ensaio de Camus que previu o burnout do século 21

O ensaio de Camus que previu o burnout do século 21

Em 1942, Albert Camus escreveu “O Mito de Sísifo”, um ensaio filosófico sobre o absurdo da vida. O que ele talvez não soubesse era que, quase um século depois, seu texto dialogaria com uma epidemia emocional: o burnout. Esta reportagem ensaística revisita a obra sob a luz exausta do século 21, onde a repetição virou rotina e o vazio se oculta sob performance. Mais que um tratado existencial, Camus oferece um retrato brutal da lucidez que insiste — mesmo quando o corpo já não quer continuar.

Kafka escreveu sobre 2025 em 1915

Kafka escreveu sobre 2025 em 1915

Havia uma maçã apodrecendo numa gaveta trancada. Ninguém sabia que ela estava lá, e mesmo assim o cheiro atravessava o quarto, entrava pelas frestas das janelas, grudava no tecido das cortinas. Franz Kafka escreveu “O Processo” em 1915 como quem tivesse olhado por um rasgo no tecido da década errada. Não era um livro sobre um tempo, mas sobre a estrutura do tempo, uma arquitetura absurda que se monta sozinha, cada parede erguida por equívoco, cada escada apontando para um tribunal que talvez nem exista. Josef K. não é um personagem. É um aviso. Ou melhor, uma antecipação.

Recorde absoluto: livro que vendeu 15 milhões de exemplares e foi traduzido para 40 línguas

Recorde absoluto: livro que vendeu 15 milhões de exemplares e foi traduzido para 40 línguas

É emblemático como certos livros nos tocam antes mesmo de terminá-los, mesmo que, ao final, não saibamos exatamente por que fomos tocados. “Toda Luz que Não Podemos Ver”, do norte-americano Anthony Doerr, é um desses casos. Não exatamente pela história, que poderia soar familiar: uma menina cega em Paris ocupada pelos nazistas, um menino alemão brilhante alistado à força pela Juventude Hitlerista, mas por algo mais sutil — uma forma de olhar para o horror sem deixar que ele obscureça completamente a ternura.