Indicado ao Oscar, filme hipnotizante com Colin Farrell e Rachel Weisz é uma viagem cinematográfica única na Netflix Divulgação / Protagonist Pictures

Indicado ao Oscar, filme hipnotizante com Colin Farrell e Rachel Weisz é uma viagem cinematográfica única na Netflix

“O Lagosta” é uma sátira amarga de uma sociedade totalitária futura, distópica e não identificada. Com uma atuação melancólica de Colin Farrell como David, que após levar o fora da namorada, fica hospedado em um quarto de hotel, onde é inquirido sobre suas próprias particularidades. Perguntas absurdas, mas que no mundo de David parecem pertinentes. É que ele vive em um lugar em que ser solteiro é um crime.

Depois do término de um relacionamento, cada pessoa é obrigada a se hospedar no hotel e tem 45 dias para encontrar seu novo par, caso contrário, são soltos e caçados em bosques. As regras são bem restritas e monitoradas pela gerente do hotel, vivida por Olivia Colman. Masturbar faz com que Robert, o homem balbuciante, personagem  de John C. Reilley, tenha uma de suas mãos queimadas em uma torradeira. Cada ação fora das regras gera um castigo desproporcional.

Outra regra é que os solteiros precisam escolher ser um animal. David é uma lagosta. Ele precisa, então, encontrar um outro animal compatível o bastante para acasalar e, quem sabe, viver uma eternidade monogâmica.  Os homens estão constantemente mentindo para parecerem compatíveis com mulheres nas quais eles têm interesse. No entanto, há também punição se eles forem pegos mentindo. Sessões de caça, em que eles são liberados nas matas para atirar contra os solteiros incuráveis que se transformaram em animais, podem valer alguns dias extras.

Sob direção de Yorgos Lanthimos em sua estreia em um filme de língua inglesa, “O Lagosta”, na Netflix, mostra como humanos necessitam de sistemas para oprimí-los. Dentro deste sistema há os padrões sociais que são considerados os mais adequados. Ser solteiro, no filme de Lanthimos, definitivamente não é adequado e nem aceitável. Na vida real também há esse padrão de expectativas, embora não tão exagerado ou absurdo como em “O Lagosta”, mas eles estão aqui, absorvidos em nossa cultura.

Os personagens são propositalmente planos, sem profundidade. Suas vozes conversam sem entonar emoções. São vozes lineares e inexpressivas. Uma demonstração de que não se pode ter personalidade, sentimentos, vontades próprias quando se vive sob um regime totalitário.

A atuação de Colin Farrell é extraordinária, sob a pele de um homem sensível, obediente e passivo, e tão ordinariamente comum, que deixa para fora da calça as gordurinhas da barriga. Ele também dorme um sono tão pesado e profundo que é incapaz de escutar um cachorro sendo morto durante a madrugada. Há uma inércia, uma analgesia generalizada. Uma mulher salta da janela do hotel, a única alternativa para escapar desses padrões que nem todos podem satisfazer, mas as expressões dos personagens permanecem congeladas. Não há choque, nem terror.

Colin Farrell precisou engordar 20 quilos para encarnar seu personagem. Além disso, os artistas quase não foram maquiados e a iluminação, durante as cenas do dia, eram naturais. Gravado em uma área rural na Irlanda, e também em Dublin, o lugar é propositalmente descaracterizado na fotografia para não representasse nenhum lugar específico.


Filme: O Lagosta
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2015
Gênero: Comédia/Drama/Ficção Científica
Nota: 9/10