Digno de Oscar, a obra-prima do cinema europeu que você ainda não descobriu no Prime Video Divulgação / Mandarin Films

Digno de Oscar, a obra-prima do cinema europeu que você ainda não descobriu no Prime Video

“Frantz” é um drama romântico de François Ozon, lançado em 2017 e aclamado pela crítica do mundo todo. O enredo, coescrito por Ozon em parceria com Philippe Piazzo, foi baseado na peça francesa de 1930 de Maurice Rostand, “L’homme que j’ai tué”. Mas quando soube que Ernst Lubitsch já a havia adaptado para as telas em seu “Não Matarás”, longa-metragem de 1932, pensou em desistir. Após assistir ao filme, Ozon se deu conta de que a perspectiva que tinha da história era completamente diferente, já que pretendia contá-la do ponto de vista de Ana (Paula Beer), dos alemães (no filme de Lubitsch ela parte do panorama francês), e de sua própria dimensão temporal, já que ele não esteve presente na Primeira Guerra, como o cineasta austríaco, e já sabia sobre a guerra seguinte.

O filme de Lubitsch é uma espécie de manifesto antiguerra. Ele vivenciou de perto os horrores destes conflitos políticos e suas consequências sociais. Mais tarde, ele precisaria fugir do nazismo e se exilar nos Estados Unidos. Atualmente, do ponto de vista de Ozon, sabe-se que a Primeira Guerra não é mais tão lembrada, especialmente para alemães, como a Segunda. Em “Frantz”, grafia propositalmente errada do nome do personagem Franz (Anton von Lucke) é uma ironia, porque representa a forma como os franceses pronunciam a palavra. A intenção de Ozon neste filme era muito mais trazer conflitos morais em seus personagens centrais acerca de honestidade e mentira, que falar sobre a guerra, que é até explorada de forma bastante ingênua.

O enredo gira em torno de Ana, uma jovem que ainda chora o luto de seu noivo Frantz,  morto na guerra. Ela vive com os pais de seu amado o médico Hans Hoffmeister (Ernst Stötzner) e sua esposa Magda (Marie Gruber). Ozon mostra uma Alemanha em preto e branco, e uma fotografia que representa o luto e a tristeza por todos os filhos mortos. Vemos personagens ressentidos, patriotas e xenofóbicos amargar a derrota e culpar os franceses por toda sua desgraça.

Com a chegada de um homem misterioso, em uma atmosfera melancólica e ao mesmo tempo noir, a rotina da família Hoffmeister vira de cabeça para baixo. Primeiro, ele bate à porta da casa da família. Quando Ana abre, sua silhueta alta e esguia já está dobrando a esquina. Ela não pode ver seu rosto. Depois, quando a jovem sai para visitar o túmulo de seu falecido noivo, vê novamente a figura do homem de frente para a lápide de Frantz, chorando sua morte.

O mesmo homem aparece no consultório do doutor Hans, que se nega a atendê-lo depois de saber que é francês. O homem, que se chama Adrien Rivoire (Pierre Niney), tenta se explicar, mas o médico não quer ouvi-lo.

Quando novamente Ana se encontra com Adrien, o questiona dos motivos de tê-lo visto chorar no túmulo de Frantz. Sem dar muitas explicações, ele diz ter conhecido seu noivo. Ana convence os sogros a recebê-lo e eles logo deduzem que Adrian e Frantz se conheceram na França e que eram amigos. O sofrimento do francês pela morte precoce do rapaz é nítido. Adrien tem sua alma torturada pelo luto. Sua melancolia é vista pela família como uma clara demonstração de seu amor por Frantz. Então, eles passam a recebê-lo carinhosamente.

Com o tempo, Adrien altera a rotina da família, transformando seu luto novamente em alegria. A fotografia em preto e branco se torna colorida. Ele trouxe novamente vida para a casa dos Hoffmeister. No entanto, conforme se aproxima mais de todos, mais aumenta seu sentimento de culpa. Segredos profundos e dolorosos demais precisam ser revelados para que ele, finalmente, faça as pazes consigo mesmo. Mas um dilema é maior que sua culpa: manter a recém-conquistada felicidade e gratidão da família com uma mentira ou torná-los permanentemente infelizes com a verdade?

“Frantz” trata da superação do preconceito, da recuperação da humanidade e do encontro de duas almas quebradas. Uma história belíssima, inteligente e reflexiva, o longa-metragem é um verdadeiro tesouro na cinematografia europeia.


Filme: Frantz
Direção: François Ozon
Ano: 2017
Gênero: Drama/História/Romance
Nota: 10