Novo suspense congelante na Netflix é uma análise comportamental da internet assustadoramente real Divulgação / Sunrise Films

Novo suspense congelante na Netflix é uma análise comportamental da internet assustadoramente real

Na recente obra cinematográfica intitulada “O Acusado”, concebida pelo talentoso diretor Philip Barantini, mergulhamos nas profundezas de um dos pesadelos digitais que a internet pode tecer. E não é mera ficção, pois exemplos reais ecoam esses horrores virtuais. O enredo é um pesadelo moderno que se desenrola quando uma mentira inocente é semeada, cresce até se tornar viral e, com crueldade inusitada, arrasta uma alma inocente para um julgamento público, à mercê de linchamentos virtuais que, às vezes, derramam-se no mundo real.

A internet, essa teia onipresente, que entrelaça mentes e culturas a uma velocidade vertiginosa, desenha-se diante de nossos olhos um universo repleto de oportunidades e desafios inimagináveis. Em um instante, ela democratiza o acesso universal à informação e ao conhecimento, encurtando as distâncias entre continentes distantes, tudo com uma agilidade que beira o inacreditável. Adicionalmente, exibe uma destreza que poderia ser comparada a um ato de magia, conservando nossas lembranças e aprisionando-as na efígie de uma nuvem virtual, onde as gerações futuras podem, de alguma forma, resgatá-las.

No entanto, como é próprio da dualidade da existência, não há luz sem sombra. A mesma tecnologia que nos fascina e liberta serve como meio para o mal. Afinal, a internet é um território acessível a todos, independente de virtude ou malícia. Quando utilizada de forma imprudente, ela dá origem a uma sombria disseminação de desinformação, ódio e à inoportuna exposição da intimidade de indivíduos que jamais consentiram com tal escrutínio.

Em “O Acusado”, o protagonista, Harri (interpretado brilhantemente por Chaneil Kular), parte de seu cotidiano londrino em direção à casa dos pais, planejando um tranquilo final de semana cuidando do cão da família, enquanto seus genitores estão em viagem. No entanto, uma reviravolta cruel ocorre quando, no meio de sua jornada, ele depara com uma notícia alarmante na internet: a estação de trem pela qual passara há pouco foi alvo de um ataque terrorista devastador. A comoção pública é instantânea, mas o impacto que isso terá na vida de Harri é imprevisivelmente devastador.

Horas mais tarde, já sozinho na residência dos pais, Harri se depara com uma realidade aterradora: sua imagem, por alguma razão, tornou-se um símbolo do caos. Após a divulgação de gravações de câmeras de segurança pela polícia, uma ex-colega de escola confunde Harri com o suposto suspeito e compartilha uma acusação infundada em suas redes sociais. Esse ato desencadeia um turbilhão de problemas, incluindo a exposição de seu nome, fotos e informações pessoais, transformando Harri em alvo de justiceiros da internet. Esses vigilantes virtuais planejam persegui-lo e ameaçam infligir atrocidades cruéis.

Não demora muito para que o apartamento de Harri em Londres seja vandalizado, e indivíduos decididos a fazer justiça com as próprias mãos apareçam na porta dos pais, transformando as ameaças virtuais em ações reais. Ao longo de quase uma hora e meia de projeção, o público é imerso em um redemoinho de agonia e tensão, testemunhando o terrível pesadelo vivido pelo protagonista, enquanto ele luta para provar sua inocência e escapar da caçada insensata que se desencadeou contra ele.

Barantini, habilmente, captura o caos do mundo virtual de maneira autêntica, demonstrando como a internet pode, abruptamente, arrancar as pessoas de seu anonimato, expondo suas vidas mais íntimas ao escárnio injusto, frequentemente motivado por conjecturas infundadas.

É notável como Chaneil Kular, em seu primeiro longa-metragem, entrega uma atuação repleta de sinceridade e sensibilidade. Seus olhos, expressando docilidade e pânico, conseguem arrebatar a empatia do público em questão de instantes, permitindo que nos coloquemos no lugar de Harri, compartilhando seus tormentos e medos.


Filme: O Acusado
Direção: Philip Barantini
Ano: 2023
Gênero: Thriller
Nota: 9