Drama com Idris Elba é um dos filmes mais belos e tocantes na Netflix Aaron Ricketts / Netflix

Drama com Idris Elba é um dos filmes mais belos e tocantes na Netflix

Os animais, em geral, sempre nos ensinam grandes lições. A conexão que formamos com estes seres de outra espécie pode ser tão profunda, que sentimos como se nossas almas se fundissem com a deles. É como se eles pudessem ler nossos pensamentos e sentir nossas dores e vice-versa. No caso dos cavalos, eles são realmente especiais, porque embora achemos que podemos domá-los, são eles quem, na verdade, nos domam. Eles nos ensinam poderosas lições de respeito ao corpo e ao espaço do outro. Também nos ensinam a controlar as energias que se emana. Eles só deixam montá-lo se sua mente estiver limpa e serena, caso contrário, essas energias os afetam de forma brutal e agressiva. A conexão é tanta, que dizem que quando um cavaleiro monta em seu cavalo, seus batimentos sincronizam. Os cavalos também nos ensinam sobre disciplina, persistência, foco e liderança. Eles querem ser montados por quem sabe liderar uma boa cavalgada.

E é nessa linha de pensamento que o longa-metragem “Alma de Cowboy”, dirigido por Ricky Staub, que coescreveu o roteiro com G. Neri e Dan Walser, segue sua premissa. O enredo gira em torno do adolescente rebelde Cole (Caleb McLaughlin), que após se meter em mais uma confusão é expulso de sua escola e despejado pela mãe na porta da casa do pai, Harp (Idris Elba), no norte da Filadélfia. Cole é um garoto negro de periferia, criado por uma mãe solteira. Sem saber mais como ajudar o garoto e temendo por sua vida, ela decide deixá-lo durante o verão na casa do pai para que ele tenha um modelo masculino a seguir.

No começo, Cole resiste. Ele não quer contato com Harp, que vive como um caubói urbano, criando cavalos na sala de sua casa. No dia seguinte, após ser deixado pela mãe, Cole tenta ir embora, mas acaba reencontrando um amigo de infância, Smush (Jharrel Jerome), um traficante de drogas que convive com os marginais do bairro e promete abrigá-lo enquanto ele não puder retornar para casa. Só que Smush está longe de ser confiável e sólido. Quando Cole realmente precisa da ajuda do rapaz, ou fica na mão ou se mete em novas confusões perigosas. É quando Cole percebe que precisa dar mais ouvidos ao seu pai. Então, ele começa a ajudar na criação dos cavalos e convive com outros caubóis urbanos, que se negam a deixar o legado de seus antepassados, apesar das transformações sociais e estéticas da cidade.

O apoio emocional que Cole precisa, ele encontra por meio desse grupo de pessoas que criam seus cavalos em estábulos de áreas que, na realidade, não são suas, mas de proprietários que sequer vivem na cidade. A luta para manter a cultura caubói é contínua, mas é graças à ela que muitos jovens negros e periféricos não se enveredam nos caminhos das drogas e do crime.

Durante o início do século 20, muitos negros do sul do estado migraram para o norte em busca de empregos nas indústrias que ali se instalavam. Eles traziam consigo seus cavalos e seus costumes e acabaram fundando naquele lugar uma nova cultura que até hoje se mantém. A rua Fletcher é uma das mais conhecidas por sua comunidade de vaqueiros. Foi depois de conhecer e conversar com alguns deles que o diretor Ricky Staub decidiu dar vida a este projeto.

Segundo o diretor, a logística para realizar as gravações foi um verdadeiro pesadelo. As filmagens se passam exatamente nos estábulos da rua Fletcher e a maioria dos personagens não são atores profissionais, mas vaqueiros que interpretam a si próprios no filme. Staub teve que ir atrás dos proprietários, fora da cidade, para conseguir com cada um a autorização para usar as locações e foi isso que deu um trabalhão.

Embora o filme gire em torno de uma cidade com uma população predominantemente negra, o diretor, que é branco, afirmou não ter enfrentado grandes desafios, pois mora desde a adolescência no norte da Filadélfia, sendo seu círculo de convivência fortemente inter-racial. “Alma de Cowboy” é seu primeiro longa-metragem, mas seu filme anterior, o curta “The Cage”, também gira em torno de um menino negro. Segundo o cineasta, nunca houve uma escolha intencional pela cor de seus protagonistas, mas natural, porque as pessoas que mais o inspiram e influenciam são negras.


Filme: Alma de Cowboy
Direção: Ricky Staub
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 8/10