Reúna a família: um dos filmes mais adoráveis do cinema está na Netflix e é perfeito para compartilhar seu tempo com quem você ama Sony Pictures / Columbia Pictures

Reúna a família: um dos filmes mais adoráveis do cinema está na Netflix e é perfeito para compartilhar seu tempo com quem você ama

Famílias são o abrigo imperfeito para onde se volta depois de se saber que o mundo está muito mais para uma imensa armadilha do que para o paraíso sem culpas que imaginávamos em nossos sonhos de tenra idade. Também por isso, à medida que correm os anos, qualquer um é capaz de concluir que quanto mais heterogêneo é o grupo que partilha o mesmo teto, alimenta-se da mesma comida, divide as contas, mas se interessa por passatempos diferentes, vota em candidatos rivais entre si e segue caminhos opostos, mais indestrutível pode ser. Em “O Pequeno Stuart Little 2”, as diferenças entre o segundo ratinho mais amado do cinema e alguns outros membros do clã que o adota já estão num nível muito mais civilizado do que o exposto no longa inaugural da franquia, quatro anos antes, mote de que o diretor Rob Minkoff serve-se a fim de refinar os conflitos de Stuart, agora presa de um sentimento que pensava ser exclusividade de seus parentes humanos. Se antes, o adorável roedor passava maus bocados para ganhar o coração de George Little, o irmão vivido pelo então pirralho Jonathan Lipnicki, e dobrar o apetite do gato Snowbell, uma bola alva de pelos, gordura e arrogância dublada com a afetação elegante de Nathan Lane, agora o roteiro de Bruce Joel Rubin e Douglas Wick sinaliza para a direção oposta: Stuart Little, quem diria, é alvo da paixão inesperada e desaconselhável de Margalo, uma simpática, porém estúrdia avezinha amarela.

Na abertura, um casal nova-iorquino dorme no começo de um sábado preguiçoso, até que o despertador toca baixo. Eleanor, a senhora Little vivida por Geena Davis, se levanta, tira do berço a caçula Martha, de Ashley Hoelck, e vão as duas contemplar os pombos andarilhando pelo parapeito da janela. Stuart irrompe eufórico no quarto de George, pelejando para fazer com que o menino saia da cama: dali a umas poucas horas, naquela manhã, o irmão disputará o primeiro jogo de futebol junto com os colegas de sala — e é justo essa a razão de sua letargia. George está visivelmente indócil diante de um possível fiasco, o que de fato se dá, e a parceria dos dois vai tocando o público, com a interpretação cativante de Michael J. Fox galvanizando o talento incipiente de Lipnicki. O diretor deixa clara a intenção de realçar que embora muito próximos, o menino e seu ratinho de estimação têm cada qual sua vida e suas batalhas, e mais, são dotados de arbítrios diversos, bem como a força para tirá-los do plano das ideias. Enquanto George parece se entregar aos medos que incute-lhe Frederick, o pai meio carrasco a que Hugh Laurie dá vida, Stuart dirige o conversível vermelho que o faria se passar por um genuíno Mickey albino do século 21, não fosse a melancólica trilha de Alan Silvestri. Num passeio pelos arredores do Central Park, cena engraçadíssima pelo insólito do que registra, Margalo, na voz de Melanie Griffith, literalmente cai do azul no banco do carona, fugindo dos rasantes do falcão implacável de James Woods.

No terceiro ato, Minkoff, responsável pelas animações mais simbólicas (e lucrativas) de Hollywood, a exemplo do “O Rei Leão” original de 1994, junto com Roger Allers, amalgama os temperamentos à primeira vista contraditórios de George e Stuart num todo coeso sobre vencer os fantasmas que povoam a infância antes que eles cresçam junto conosco. Temos o tamanho que queremos ter, diz Margalo a Stuart. Não é bem assim, sabemos, mas nem tudo precisa ser um eterno jogo de gato e rato.


Filme: O Pequeno Stuart Little 2
Direção: Rob Minkoff
Ano: 2002
Gênero: Infantil/Aventura
Nota: 8/10