“Watership Down” é uma animação de Noam Murro do romance filosófico de Richard Adams sobre um grupo de coelhos que precisa fugir de sua terra natal para sobreviver à invasão humana. Embora tenham sido histórias contadas pelo autor para suas filhas durante longas viagens de carro, que acabaram sendo transcritas em livro, “Watership Down” tem o enredo denso, complexo e até violento demais para crianças, sendo mais apropriado para o público adulto.
O romance, que havia sido publicado em 1972, ganhou uma adaptação para as telas em 1978, de Martin Rosen, e se tornou um clássico. Quando quis fazer sua própria versão, Murro teve que realizar diversas visitas a Rosen para convencê-lo de lhe vender os direitos sobre a história. Após a confirmação e lançamento, a nova adaptação foi duramente criticada e diversas comparações tentaram rebaixar sua produção. Mesmo assim, a minissérie foi indicada a diversos prêmios e levou para casa um Emmy de melhor programa especial na categoria animação.
Com vozes de James McAvoy, Nicholas Holt, sir Ben Kingsley, John Boyega, Tom Wilkinson, Gemma Arterton, Olivia Colman e várias outras celebridades, a saga emocionante, produzida pela Biscuit Filmworks e a BBC1, em parceria com a Netflix, se divide em quatro episódios de cerca de 50 minutos.
Embora gire em torno de animais, com os poucos humanos que entram em cena como vilões, a fábula recorta temas universais, aprofundados e sensíveis, que vão de política, religião, meio-ambiente, o papel da mulher na sociedade, igualdade social, migração, territorialidade e identidade, além de lealdade e amizade.
Com um orçamento de 20 milhões, a produção fez do menos mais e se equivaleu em qualidade com produções, por exemplo, da Disney, que ultrapassam as centenas de milhões de reais em seu caixa. É que fazer um filme como “Watership Down” é muito mais sobre uma realização pessoal que comercial. Pelo menos foi assim para Murro e para as muitas vozes que aceitaram integrar o elenco. As estrelas do cinema praticamente procuravam o cineasta para pedir que participassem do projeto.
As vozes tiveram de ser gravadas separadamente e à distância. Muitas vezes, Murro os dirigiu via Skype, de madrugada. Levaram dois anos apenas para conseguir captar e juntar todos os áudios, que são surpreendentemente bons. Em entrevista, Murro recorda do dia em que Nicholas Holt e ele se emocionaram durante as gravações e demoraram para se recompor. A emoção dos diálogos chega no espectador, porque foram realmente experimentadas pelos dubladores.
Já a estética seguiu o estilo diorama, como pinturas em 3d, o que o deixou com uma roupagem mais clássica, apesar de ter sido feito em computador. A ideia do diorama surgiu após o diretor fazer uma visita ao Museu de História Nacional de Nova York. E para manter o visual interessante, Murro fez com que sua câmera não capturasse os ângulos tradicionais. Ela se move sempre para lugares inesperados. Com um trabalho de tecelão, artesanal e minucioso, a minissérie finalmente ficou pronta.
“Watership Down” pode não ser tão popular aqui no nosso trópico, mas aborda assuntos nos quais todos podemos nos identificar. Na verdade, embora tenha sido escrita na década de 1970, tudo é igualmente relevante agora.
Série: Watership Down
Direção: Noam Murro
Ano: 2018
Gênero: Animação / Drama / Aventura
Nota: 8/10