Inspirador e comovente, filme argentino na Netflix vai mudar seu jeito de enxergar a vida Divulgação / Netflix

Inspirador e comovente, filme argentino na Netflix vai mudar seu jeito de enxergar a vida

Histórias de professores que transformam vidas caóticas de estudantes marginalizados são comuns no cinema. Não há nada de novo ou especial nisso. “Escritores da Liberdade”, “Entre os Muros da Escola”, “Ao Mestre Com Carinho” são títulos que percorrem a narrativa do professor-idealista-redentor. Em escolas para privilegiados também não há nada de muito original. “A Sociedade dos Poetas Mortos e “O Clube do Imperador” já se ambientaram por lá.  Mas há algo de inspirador nessas histórias, como a da produção argentina “O Suplente”, que ainda nos cativam e nos inspiram.

A adolescência é um limbo da vida em que estamos presos entre a infância e a vida adulta. São poucos aqueles que podem se orgulhar de não ter vivido, nesses tempos, um período problemático. É que a maioria de nós nos se sentimos perdidos em relação ao presente/futuro e divididos entre o bem e o mal. Ali é o momento de definição de quem escolhemos ser pelo resto de nossas vidas e, pela primeira vez, a escolha e as consequências serão apenas nossas. É uma baita pressão.

O problema é que quando se trata de adolescentes de famílias vulnerabilizadas pela pobreza, violência, desinformação e falta de boas oportunidades, a situação é ainda pior. As escolhas e consequências têm um peso ainda maior para estes adolescentes. É como se uma âncora os puxasse para baixo e eles tivessem que lutar contra este peso para poder se equilibrar e fazer boas escolhas. Simplesmente, não é justo.

Por outro lado, a profissão do professor de escola pública é ingrata. Você se torna uma espécie de saco de pancadas para as frustrações, medos, desprezos e inseguranças daqueles estudantes. Às vezes, ainda deve encarar a violência do bairro onde fica a escola e não é preciso nem mencionar que o salário quase nunca compensa e que a rotina é muito pesada, com mais trabalho para ser finalizado em casa.

Eu acabei de descrever a realidade, mas também uma boa parte do filme “O Suplente”, de 2022, dirigido por Diego Lerman e co-roteirizado por ele com María Meira e Luciana de Mello. No filme, Lucio (Juan Minujín) é um professor suplente de literatura que tem que encarar uma turma de adolescentes problemáticos de periferia. Quando a diretora descobre drogas no banheiro masculino, ela denuncia à polícia, que vai até a instituição revistar os estudantes. Um dos alunos de Lucio, Dilan (Lucas Arrua), é flagrado com alguns comprimidos e mais de 400 gramas de cocaína. A partir de então, metade de sua turma não retorna às aulas e o professor passa a se dedicar a ir em suas casas para tentar resgatar alguns deles.

Dilan conhece o pai de Lucio, O Chileno (Alfredo Castro), trabalhador comunitário em um “sopão” na cidade. Dilan diz a Lucio que deve muito ao El Chileno, mas nunca sabemos ao certo a profundidade dessa relação. Somos informados de que o pai de Dilan era um criminoso que foi morto pela polícia. Após a abordagem policial na escola, o adolescente está sendo perseguido pelo traficante mais perigoso da região, um homem com ambições políticas e que é inimigo do Chileno. Lucio não vê outra alternativa a não ser encarar o traficante para defender seu pai e seu aluno.

 O roteiro deste filme é previsível e comum, nos fazendo percorrer caminhos que já fizemos antes em outras produções do tipo. Há uma mudança rítmica do filme nos minutos finais, que o transforma de drama para thriller de ação, mas a insatisfação é que ele acaba deixando algumas pontas soltas. Entre os pontos positivos, está no fato de que podemos contar com boas atuações, especialmente do protagonista, Minujín, além de experimentarmos as breves aparições da celebrada Bárbara Lennie como Mariela, ex-mulher de Lucio.  O filme também funciona como comentário social, quando mostra que sistema pode prejudicar mais que ajudar estudantes vulnerabilizados, quando a polícia decide se instalar na instituição ou quando outro professor é colocado na sala de Lucio para vigiar as aulas. Também critica a forma como a escola pode se tornar mais um instrumento de opressão que de libertação.


Filme: O Suplente
Direção: Diego Lerman
Ano: 2022
Gênero: Drama
Nota: 8/10