Bula de Livro: Sonhos de Trem, de Denis Johnson

Bula de Livro: Sonhos de Trem, de Denis Johnson

Décimo (10º) livro lido, em 2023: “Sonhos de Trem”, do americano Denis Johnson. Em poucas palavras: publicado, originalmente, na “The Paris Review” e considerado uma das obras-primas do autor, o livro conta a história de Robert Grainier, um homem calado e misantrópico, que trabalha na construção de ferrovias no noroeste dos Estados Unidos.

Recém-casado e pai uma menina, ainda de colo, Grainier vê o mundo ruir quando, um dia, ao retornar do trabalho, encontra sua cabana consumida pelo fogo e nenhum vestígio de sua mulher e sua filha.

Sem rumo, exaurido pelo trauma e buscando alguma redenção existencial e espiritual, Grainier passa a perambular por todo tipo de emprego e lugares (de acordo com as estações do ano), mergulhado em reflexões, devaneios e visões oníricas — quase sempre envolvendo trens.

Por meio de idas e vindas no tempo, que perfazem 80 anos, e atravessam o século 19, a novela é, também, um retrato visceral de personagens anônimos que ajudaram a construir a história americana, mas ficaram à margem dela. Em muitos momentos, o livro faz lembrar Jack London — com imagens avassaladoras e hipnotizantes —, mas, diferentemente de London, não existe a redenção milagrosa dos finais felizes. No romance de Denis Johnson, o destino não parece afeito a compaixões e, apenas, segue seu curso, marcado pela crueza e pela inevitabilidade.

“Em sua vida, viajou para o oeste, até alguns quilômetros do Pacífico, embora nunca tivesse visto o mar propriamente. Tivera uma amante, um acre de terra, duas éguas e uma carroça. Jamais se embriagara. Jamais comprara arma de fogo ou falara ao telefone. Viajara regularmente de trem, muitas vezes de automóvel e uma vez de avião. Durante a última década de sua vida assistia televisão sempre que ia à cidade. Não fazia ideia de quem teriam sido seus pais, e não deixou para trás nenhum herdeiro.”


Livro: Sonhos de Trem
Autor: Denis Johnson
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza
Páginas: 88 páginas
Editora: Companhia das Letras
Nota: 9/10