Deus é brasileiro, mas, não é patriota o bastante para apertar o gatilho

Deus é brasileiro, mas, não é patriota o bastante para apertar o gatilho

Escrevo essas linhas em pleno feriado de Finados, de tal sorte que a minha paciência com os seres vivos anda agonizante-quase-morta. Odeio os feriados. Odeio a morte. Amaria socar o seu queixo de vidro, mas, golpe de sorte, Maria não deixa. Fico aqui a escrever, a observar o seu péssimo comportamento nos últimos dias. Ser desagradável é uma arte. Você parece possuir aquele talento inato para atormentar a vida alheia. Não, eu não votei em Mojo Filter para Presidente da República. Sim, eu devo estar ficando louco por completo. Contemplo o mínimo de insanidade e isso já me contenta. Pergunte à sua mãe. Não sou daquele tipo de patriota que come gente nos apartamentos funcionais de Brasília. Pode parecer engraçado, mas, a verdade é que Omar não tá nem aí pra peixe. A saída é chupar chuleta e escrever. Troco um 38 por um 69. Folgo em dizer que a minha munição são as palavras. Não possuo nada mais valioso do que a pena. Exceto, a saúde plena. Não sou da sua lavra. Outra livraria brasileira pediu concordata. Não me admira. Quem ainda lê livros? Quem ainda lê as mãos? Uma cigana obesa com baganas sobre a saia saiu do anonimato para ler o meu destino: desatino, meu jovem. Adorei o “meu jovem”. Paguei-a, regiamente, com cédulas de desamor, uma moeda podre que reservo aos cretinos. São os ufanistas verborreicos os que mais me assustam. Você não é o único santo por aqui. Sim, é óbvio que sou rigorosamente contra a corrupção que arruina o país. Por falar nisso, devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu. Pau que dá em Chico dá em Francisco Buarque de Holanda. Não está entendo nada? Eu rio; você, lama. Tive a sorte de ser criado à base de Biotônico Fontoura, vermífugos singulares e doses cavalares de música popular brasileira. Mesmo assim, parasitas da sua laia mastigam migalhas de esperança dentro das minhas tripas-coração. Contudo, apesar de nada, qualquer pessoa como você desanuvia-me. Aquele típico cidadão-do-bem que exalta os valores familiares e os bons costumes. Quisera quarar a sua carcaça moral no varal de um curtume. Tem sangue se perdendo, vertiginosamente, nas suas veias, mas, há também coágulos de chorume. Tenho um péssimo costume: sinto o cheiro de um mau caráter de longe. A ordem do dia é armar a população até os dentes, exceto, os miseráveis desdentados, a fim de que se faça justiça com as próprias mãos, como se Deus fosse John Wayne. “Só atirei porque te amo”, você disse. Suas ofensas são fios desencapados meticulosamente inseridos no meu cu. A estupidez que tortura. Por hora, adiarei para uma oportunidade futura, os recursos de um final feliz. Enquanto a ventura não chega, a chaga clama: escreva que dói menos.