25 livros obrigatórios para quem sabe que viver — viver de verdade — é mais do que passar os dias

25 livros obrigatórios para quem sabe que viver — viver de verdade — é mais do que passar os dias

Tudo começa com a ideia — tola, talvez — de que seria possível organizar a literatura como se ela coubesse em listas. E, ainda assim, continuamos tentando. Mas há um motivo. Quando os séculos se sobrepõem e as vozes começam a ecoar umas sobre as outras, precisamos de marcos, de atalhos, de um ponto onde encostar o pensamento e dizer: aqui, isso importa. Foi com esse espírito — e não com pretensões absolutas — que nasceu esta curadoria: uma travessia por algumas das listas literárias mais respeitadas do mundo, em busca de 25 livros que não apenas sobreviveram ao tempo, mas moldaram a sua passagem.

A seleção partiu de oito compilações de prestígio quase incontestável: Modern Library’s 100 Best Novels (1998), Time Magazine’s 100 Best Novels (2005), Le Monde’s 100 Books of the Century (1999), BBC’s The Big Read (2003), 1001 Books You Must Read Before You Die (2006), The Guardian’s 100 Best Books of the 21st Century (2019), além dos registros históricos dos vencedores do Booker Prize e do Pulitzer Prize for Fiction. Essas listas, embora diversas nos critérios, compartilham uma inquietação comum: o desejo de mapear o que a literatura tem de mais transformador.

A partir do cruzamento desses cânones, foi possível extrair 25 obras que se repetem com notável constância — não por moda, mas por densidade. Cada uma delas, à sua maneira, rompeu estruturas. Algumas reinventaram o próprio conceito de narrativa (“Ulisses”, “Tristram Shandy”), outras se tornaram espelhos desfigurantes da sociedade que as engendrou (“1984”, “O Estrangeiro”, “O Processo”). Há livros que desnudam sistemas, como “Amada” ou “As Vinhas da Ira”, e há aqueles que sussurram verdades incômodas por trás de suas tramas aparentemente simples — “O Sol é Para Todos”, por exemplo, ainda é lido como se tivesse sido escrito ontem, porque sua dor permanece de hoje.

Não há, aqui, um único gênero. Nem há uma única língua. Há epopeias mitológicas de hobbits e fábulas góticas sobre criadores que fogem de suas criaturas. Há meninas órfãs que se recusam a obedecer e soldados que enlouquecem ao tentar sobreviver à lógica militar. Há o humor escuro de Joseph Heller e a doçura contida de Jane Austen. E há — como não poderia deixar de haver — o assombro que Kafka espalha nas dobras da realidade.

Esta não é, portanto, uma lista para encerrar discussões. É um convite para retomá-las. E talvez o gesto mais honesto que se possa fazer com a literatura — depois de lê-la com o corpo inteiro — seja simplesmente isso: organizá-la um pouco, saber que ela resiste à organização, e mesmo assim continuar tentando. Porque toda vez que escolhemos 25 livros entre milhares, o que fazemos, no fundo, é tentar entender quem somos — ou quem já fomos, quando acreditamos que uma frase ainda podia mudar tudo.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.