A linha que separa aqueles que impõem a lei dos que a transgridem dissolve-se na atmosfera sombria de “Bastion 36”, em que Olivier Marchal retorna ao universo da corrupção policial. Com um comandante rebaixado travando uma luta solitária contra ex-colegas transformados em criminosos, o filme resgata dilemas morais e mergulha em um noir carregado de tensão e brutalidade.
O filme se fortalece ao explorar os conflitos ao redor de Emilie. Gjermund, interpretado por Trond Fausa, transmite estoicismo e exasperação na medida certa, especialmente ao lado da esposa, Silje, cuja frustração pela dificuldade de engravidar ressoa em um subtexto silencioso, mas poderoso. O humor, ainda que discreto, emerge nos momentos em que Silje observa Emilie com um misto de censura e resignação, uma relação que adiciona camadas autênticas à narrativa.
O embate entre tradição e transformação está no cerne do longa, refletindo tanto as mudanças estruturais da sociedade britânica quanto a própria evolução dos personagens. Lady Mary, pragmática e ciente dos ventos da modernidade, contrasta com Robert, que se vê desafiado a reavaliar sua posição no mundo. Além disso, há espaço para tramas paralelas que enriquecem o tecido narrativo, como o romance inesperado de Mrs. Patmore (Lesley Nicol) e a trajetória de Daisy (Sophie McShera) e Andrew (Michael Fox), personagens que representam uma aristocracia em transição.
Uma série de eventos interligados revela o quanto o acaso pode ser cruel e impiedoso. Sob a direção magistral de Alejandro González Iñárritu, uma trama de coincidências e mal-entendidos expõe a distância emocional entre as pessoas, ainda que geograficamente próximas. Em um mundo onde palavras falham, o silêncio ecoa mais alto do que qualquer grito.
A história segue um casal de modelos, Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean, em seu último papel), que embarca em um cruzeiro de luxo repleto de figuras que encarnam o poder e a decadência. Entre os passageiros está um oligarca russo grotesco, enquanto o capitão do navio (Woody Harrelson) oscila entre a apatia e o deboche. No coração da trama, uma ceia de gala durante uma tempestade se transforma em um espétaculo de caos físico e simbólico, reminiscentes das sequências escatológicas de “A Comilança” e “O Sentido da Vida”. A cena escancara o grotesco da opulência e antecipa a inversão brutal de papéis sociais que virá depois.
