Imagine um mundo onde a solteirice não é uma escolha, mas um crime. Nesse universo, indivíduos sem parceiro são confinados em um hotel e submetidos a um prazo fatal: ou encontram alguém compatível, ou são transformados em animais e caçados. Com essa premissa cruel, Yorgos Lanthimos constrói uma sátira ácida sobre a obsessão por padrões sociais, onde a liberdade individual é sacrificada em nome da ordem.
Inspirado em clássicos como “Sexta-Feira Muito Louca”, “17 Outra Vez” e “De Repente 30”, o roteiro de Victoria Strouse, Adam Sztykiel e Amy Krouse Rosenthal acompanha os Walker: os pais, Jess (Jennifer Garner) e Bill (Ed Helms), os adolescentes CC (Emma Myers) e Wyatt (Brady Noon), e o pequeno Miles (Lincoln e Theodore Sykes). Cada um enfrenta desafios pessoais e dificuldades para alinhar suas expectativas. Contudo, um raro evento astronômico muda suas vidas: de repente, todos se encontram nos corpos uns dos outros.
A investigação avança lentamente até que Enola decifra um enigma escondido em uma correspondência romântica enviada à jovem desaparecida. Paralelamente, Sherlock (Henry Cavill) persegue uma mente criminosa que o desafia por meio de anagramas enigmáticos, arrastando-o para um perigoso jogo intelectual. Enquanto isso, Enola enfrenta dúvidas sobre sua própria capacidade, sentimento reforçado pelo preconceito da sociedade em relação às mulheres que desafiam normas impostas.
Azazel Jacobs, diretor e roteirista, transpõe o universo tchekhoviano para os dilemas contemporâneos sem diluir as angústias universais do início do século 20. O filme propõe um diálogo entre épocas, ressaltando que, embora o contexto mude, os conflitos essenciais do ser humano persistem. No entanto, sua abordagem não se limita à fidelidade temática: Jacobs imprime um olhar incisivo sobre as particularidades da modernidade, tornando sua obra pungente e imediata.
Ambas são mulheres negras de pele clara, cujo fenótipo lhes permite passar por brancas em uma sociedade onde a aparência é um fator determinante de privilégio ou exclusão. No Brasil, a concepção racial se baseia em nuances culturais e históricas que tornam essa lógica mais difusa, enquanto nos Estados Unidos vigorou, por décadas, a chamada “regra da gota de sangue”, que classificava como negra qualquer pessoa com ascendência africana. Paradoxalmente, essa categorização fomentou a luta dos afro-americanos por direitos civis, ainda que dentro de uma estrutura social segregacionista.
