Crônicas

Eu gosto de ler Paulo Coelho, de tomar injeção e de comer jiló

Eu gosto de ler Paulo Coelho, de tomar injeção e de comer jiló

Eu gosto também de me resfriar com as chuvas de verão. Gosto da coriza, dos 40 graus de febre, de curtir ressaca brava e de preparar fumegantes chás de boldo. De amarga, já basta a vida? Ao contrário das seriemas e do resto da humanidade, eu gosto das cobras (porque, como eu, elas engolem sapos). Eu gosto de votar em políticos que adesivam o meu carro com fotos, números e slogans, que encham semanalmente o tanque de gasolina, e que coloquem créditos no meu aparelho celular. Eu gosto de acordar bem cedo no domingo e votar no primeiro candidato cretino que me venha à mente. Bom mesmo é vender o voto.

A esperança é um amanhecer em nós, mesmo estando tudo escuro e frio lá fora

A esperança é um amanhecer em nós, mesmo estando tudo escuro e frio lá fora

Nem sempre as coisas acontecem conforme planejamos. Tem sonhos que, infelizmente, nunca saíram do papel. Outros foram rabiscados, mas, por motivos contrários às nossas vontades, não foram concluídos. Enfim, por toda nossa vida amamos e sofremos, acertamos e erramos, tropeçamos e caímos. Nessas horas, ficamos totalmente perdidos. Perdemos o rumo, a fé, e até mesmo a vontade de recomeçar. É preciso aprender a lidar com as frustrações. Além disso, não é porque algo não deu certo que não poderá acontecer um dia. Às vezes, ainda há tempo! Mas, se não houver, não deixe a desilusão ser maior do que você. Reinvente-se.

E se Deus for a mulher?

E se Deus for a mulher?

A multidão dolente desceu a duna pelo caminho mais fácil. Ele não. Ele tomou um tranco por trás desferido pela própria companheira — um golpe seco e preciso, mais conhecido como “alavanca dos cretinos” — fazendo com que rolasse feito um rocambole pelo íngreme paredão de areia, até se estatelar na praia, de barriga pra cima, braços e pernas abertos, largado. Enfim, o sujeito parecia uma estrela-do-mar morta de sede. A maré subia. O conceito com a esposa decrescia mais rápido que o cagar da gaivota no barquinho a deslizar no macio azul do mar.

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”

É, minha gente. A vida é mesmo assim. Não tem replay, não tem segunda chamada. Viver é tudo aquilo que não conseguimos repetir. É o olhar que muda a todo instante, a paisagem que se compõem e decompõe, o sol que nasce diferente em cada amanhecer. Viver é dar o primeiro passo o tempo todo. É o movimento constante que nos diferencia de outras épocas e a razão pela qual não seremos os mesmos lá adiante. Esse é o grande barato da existência: o recomeço em cada piscar de olhos.

Apaixone-se. Às vezes a primavera chega mais cedo, mesmo ainda sendo inverno em nossos corações

Apaixone-se. Às vezes a primavera chega mais cedo, mesmo ainda sendo inverno em nossos corações

Já há tanta coisa acontecendo ao nosso redor. Esforços e fracassos, romances e desamores, vitórias e perdas. E você, que esteve entre fins e recomeços, conhece bem aquela sensação de saber muito pouco a seu próprio respeito. Houve uma época em que vivia fugindo de si mesmo. Permanecia em um sono profundo, como se flutuasse sobre as nuvens invisíveis da desesperança. Era deveras surdo. Escondia-se atrás de relações rasas e egoístas. Fumava demais e se exercitava pouco, e nem se importava. Anestesiado, tocava a vida.