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A última madrugada de Sylvia Plath: Londres, 1963, portas vedadas, filhos dormem, ela escreve e morre ao amanhecer Gordon Ames Lameyer / Universidade de Indiana

A última madrugada de Sylvia Plath: Londres, 1963, portas vedadas, filhos dormem, ela escreve e morre ao amanhecer

De Boston à Cambridge, da bolsa que a levou além-mar ao encontro com um poeta carismático, a trajetória dela foi ascensão e fricção. Rigorosa desde cedo, transformou rotina em disciplina: acordar antes das crianças, escrever no frio, medir cada frase. Casou, mudou-se, teve dois filhos, separou-se, subiu um sobrado em Primrose Hill quando o país congelava. Entre contas, cartas e leituras, perseguiu precisão. Aos trinta, num fevereiro implacável, a vida se interrompe. Ficou a obra, e o percurso de quem fez da linguagem um lugar para resistir, contra o frio.

Aos 75, uma doceira do interior do Brasil publicou seu primeiro livro. Hoje, toda a língua lusófona a reverencia Foto / Cidinha Coutinho

Aos 75, uma doceira do interior do Brasil publicou seu primeiro livro. Hoje, toda a língua lusófona a reverencia

De uma casa baixa à margem do Rio Vermelho, Cora Coralina transformou trabalho, silêncio e cadernos em literatura. Doceira, viúva, escritora tardia, publicou o primeiro livro em 1965, aos 75 anos, e a partir daí reorganizou pertencimentos: mulheres, cidades pequenas, leitores urbanos. Entre becos, cartas e rigor verbal, sua obra recusa exotismo e sustenta uma ética da atenção. Este retrato atravessa a infância em Vila Boa, a volta em 1956, a edição pela José Olympio, a reedição da UFG e a leitura de Drummond, até o reconhecimento público e museológico.

Em 1938, após o último poema, a poeta que mudou a poesia argentina se jogou no Atlântico, em Mar del Plata

Em 1938, após o último poema, a poeta que mudou a poesia argentina se jogou no Atlântico, em Mar del Plata

Ao sul dos Alpes, uma menina deixa Sala Capriasca, Suíça, e encontra no Rio da Prata o idioma do sustento. Cresce entre San Juan e Rosario, aprende a fabricar abrigo com pouco. O pai morre, o dinheiro mingua, ela aceita fábrica, escritório, giz. Aos dezenove, Buenos Aires a recebe: grávida, sozinha, turnos longos, pensão, o filho Alejandro nos braços. De dia, aulas e jornal; à noite, páginas. Em 1935, o diagnóstico, a cirurgia, a cicatriz. Três anos depois, Mar del Plata, vento frio, consulta, presságio. A madrugada saberá do resto.

Beccaria gritou em 1764. O Brasil não ouviu. E ainda não ouve

Beccaria gritou em 1764. O Brasil não ouviu. E ainda não ouve

Cesare Beccaria, filósofo e jurista italiano do século 18, tornou-se referência ao defender que penas devem ser necessárias, proporcionais e públicas. Em 1764, sua intervenção iluminou o debate ao subordinar o direito de punir ao pacto social e à utilidade comum, rejeitando tortura, arbitrariedade e espetáculos de crueldade. Para ele, leis claras e julgamento célere reduzem o crime mais que castigos severos. Sua influência alcançou reformas na Europa e nas Américas, inspirando constituições, códigos e garantias processuais que ainda hoje orientam o ideal de justiça penal racional, efetiva e humana.

40 anos do primeiro disco da Legião Urbana Maurício Valladares / Divulgação

40 anos do primeiro disco da Legião Urbana

A estreia da Legião Urbana em 1985 foi com um disco de capa branca, austera e emblemática. A obra representa um marco histórico de uma virada cultural no Brasil. O país tentava reaprender a respirar após duas décadas de sufocamento. Pois a ditadura militar, enfim, dava lugar à redemocratização, com o nascimento de novos atores sociais. Mas, como toda transição, essa também é ambígua, entre a euforia e a frustração, o desejo de futuro e a herança pesada de um passado recente.