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Sem tempo para sentir

Sem tempo para sentir

Quando digo — e escrevo — que a humanidade não tem jeito, a reação das pessoas é variável. Muitos torcem o nariz, retrucam que estou exagerando, que a natureza do ser humano, regra geral, é boa. Outros, impacientes, acusam-me de pedantismo, de pessimismo, de falta de Deus no coração ou de Prozac na cabeça. A minoria cala, pensa e me dá ouvidos; consola e admite que a situação é, sim, degradante, mas, apesar das profundas dificuldades, sustenta ser necessário perseverar nos esforços de diminuir a injustiça e a desigualdade social que são, em essência, a origem de todos os males que assolam a humanidade.

Marçal Aquino e Patrícia Melo narram o desmanche brasileiro Adriano Heitmann / Companhia das Letras

Marçal Aquino e Patrícia Melo narram o desmanche brasileiro

Em momentos das últimas décadas, surgiu a ideia de que o Brasil atravessava um período de desmanche. A violência urbana passou a dar o tom das imagens, narrativas e até dos sons. Pintou nas telas de cinema, livros e discos uma sociedade aterradora. Nesse caldo cultural, se destaca a produção ficcional de Marçal Aquino e Patrícia Melo. Ambos dialogam com a linguagem cinematográfica, e a novidade veio da escrita ágil, urgente e muito precisa ao captar uma realidade traumática do país.

Os influenciadores que influenciam

Os influenciadores que influenciam

Todo artista foi influenciado por alguém, mesmo pessoas de profissões que não são do ramo artístico tem as suas influências. É claro que eu fui influenciado por vários humoristas. Sempre que me perguntaram quais eram as minhas influências eu falei de Monty Python, Woody Allen, Mel Brooks, da galera do Pasquim, Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Stanislaw Ponte Preta, que todos esses caras me influenciaram. Mas apesar de terem me influenciado e terem influenciado a muitos outros humoristas, nenhum deles se dizia influenciador.

Eva descobre que ser mãe é padecer

Eva descobre que ser mãe é padecer

O que “Ligações Perigosas”, de Chordelos de Laclos, tem a ver com “Precisamos Falar Sobre o Kevin”, de Lionel Shriver? São romances epistolares, que se desenrolam por meio de cartas, adaptados para o cinema. Stephen Frears e Milos Forman trouxeram Laclos para os tempos modernos. O filme de Lynne Ramsay ganhou mais notoriedade do que o livro de Shriver. A ponto de se tornar a primeira referência do título.

Advocacia criminal, Francesco Carnelutti e Josef K.

Advocacia criminal, Francesco Carnelutti e Josef K.

Não é nada incomum encontrar entre as pessoas uma abjeção mais ou menos explícita pela figura do advogado criminal. À primeira vista, trata-se de um sujeito com um senso moral extremamente flexível, capaz de defender os monstros mais infames em troca de honorários. Seguindo essa linha, a opinião pública confunde o advogado com o seu cliente (e para piorar, com o crime pelo qual este é acusado). É algo como: “se fulano defende um monstro, é porque ele também deve ser um”.