Bolaño não morreu. Ou melhor, morreu, sim, claro, 2003, Barcelona, fígado em ruínas. Mas é como se não tivesse morrido. A cada dois ou três meses, ele ressurge — em coletâneas, inéditos escavados em pastas esquecidas, reedições com novas capas, novas traduções, novas prefácios assinados por jovens críticos ansiosos por sentar ao lado dele na eternidade. Nunca é suficiente. Bolaño virou voz de oráculo, farol de gerações, tatuagem de curso de letras. E o mais estranho: há algo verdadeiro ali. Mas também há um truque. E o truque não é invisível. É imenso, impresso em papel cuchê. E já dura tempo demais.

Nem toda obra de autor renomado é grande literatura. Alguns dos nomes mais respeitados da ficção já erraram feio o tom, criando livros que, apesar do prestígio e da assinatura de peso, tropeçam na forma, na emoção ou na própria ideia. São romances que pareceram importantes até a terceira página — e que, dali em diante, testaram a paciência e a fé de leitores atentos. É arte que perdeu o ritmo. E, por isso mesmo, merecia vir com aviso: “Cuidado. Aqui o autor não estava no seu melhor.”

Você já percebeu como a internet é a verdadeira incubadora de histórias? Tem gente que acha que Wattpad é só terra de fanfic adolescente, mas não: lá também brotam romances e aventuras que, bem, talvez devessem continuar no computador mesmo. Afinal, transformar rascunho em bestseller nem sempre é receita para um prato saboroso. Tem muita receita mal temperada que acabou cozinhando demais!

Nem todo fracasso é feio. Às vezes, o que decepciona é justamente a elegância vazia, o brilho formal sem vida, a promessa literária feita por autores que já nos deram livros maiores. Nesta curadoria, reunimos obras que não merecem esquecimento, mas talvez peçam clemência. São livros menores, escritos por vozes consagradas — e que, mesmo respeitáveis, nos deixaram com a sensação de tempo perdido. Porque não é o erro que cansa: é a ausência de risco.