O encontro de Otto Maria Carpeaux com Franz Kafka, em 1921
Kafka não se impõe. Ele se infiltra. Não pela porta da frente, mas pela ombreira roída da linguagem. É assim que ele entra na vida de Carpeaux: como ruído, como nome mal ouvido, como presença que escapa. Nada de encontros luminosos ou frases memoráveis. Um erro fonético. Uma voz falha num salão abafado. Um exemplar dado como troco por um pagamento nunca feito. Historiadores podem discutir os fatos, levantar datas, questionar nomes. Mas há coisas que só a literatura registra com precisão: o que não foi dito, o que não foi lembrado, o que não se pode provar.