Autor: Giancarlo Galdino

Uma mulher que ama sua família, mas que oprimida pela degeneração desse amor, resolve ir morar sozinha é o mote de “My Happy Family” (2017), do casal de diretores Simon Groß, alemão, e Nana Ekvtimishvili, da Geórgia. O filme, à disposição do assinante da Netflix, comprova a tese de que família que trabalha unida permanece unida — mesmo tratando de uma família que se fragmenta, justamente para não quebrar.

Inspirado no caso verídico — e bárbaro — do sequestro e morte de uma menina de 5 anos no Rio de Janeiro do princípio da década de 1960, o diretor Fernando Coimbra se propõe a contar uma história de horror da maneira mais sóbria que consegue, o que, definitivamente, não é para qualquer um. O thriller psicológico é um dos melhores filmes brasileiros já realizados na última década, justamente por aliar medo, abjeção, paixão e ruína, circunstâncias que se abatem sobre os personagens a conta-gotas até o final, impactante.

À primeira vista, “As Mortes de Dick Johnson” pode parecer mórbido — e à segunda também. Rodado em 2018 e finalizado dois anos depois, o documentário da diretora Kirsten Johnson, filha do tal Dick do título, se vale de uma ideia arrasadora, no que isso pode ter de bom e de ruim, no intuito de elaborar conjecturas acerca da morte do pai, subitamente arrebatado por uma doença degenerativa que, de pouco em pouco, subtrai sua capacidade de trabalhar, de produzir, de se recordar das coisas mais prosaicas, de viver, enfim.

Dispondo de fotografia impecável, trilha sonora precisa e planos econômicos — mas que não deixam a história esfriar —, o diretor Antonio Campos faz de “O Diabo de Cada Dia”, lançado em 2020, um terror soft cheio de personalidade. O filme, disponível no acervo da Netflix, muitas vezes apenas sugere a interferência do maligno em suas sequências, conferindo à história uma ambivalência narrativa que o torna ainda mais assustador.

Revelando-se uma necessária inovação nos filmes de coming-of-age, os que se desenrolam em volta do amadurecimento de uma personagem, “Você Nem Imagina” é uma aula sobre como se erigir as muitas facetas do protagonista de uma história, neste caso de amor — ou quase. No filme de 2020, no acervo da Netflix, Alice Wu conta a história de Ellie, uma adolescente perdida em meio a um amor platônico, e assustada por se dar conta de que, involuntariamente, também desperta paixões a que não pode corresponder.