A humanidade tem enfrentado situações que demanda-lhe uma dose generosa de coragem — e às vezes alheamento. Por estarmos sempre cercando-nos de todos os cuidados para que nada fuja ao previsível, no momento em que nos vemos diante de uma grande reviravolta do destino, ainda que tudo possa tornar ao ponto inicial não muito tempo depois, não perder-se de si mesmo acaba sendo um desafio. Tipos cujos coração e mente irmanam-se num processo intrincado e um tanto autodestrutivo, em que o empenho de boa parte de sua energia vai para a procura desesperada por alguma lembrança que movam-nos para um lugar onde consigam se refugiar da vida miserável que julgam perfeita, ocupam a cultura pop e o mundo desde sempre. Em “Halo”, Steven Kane e Kyle Killen reeditam o argumento de modo a fixar esse vocação para o desespero que acompanha-nos desde sempre, sentimento agudizado em quadras da História como esta.
Mocinhos e vilões estão cada vez mais parecidos, e isso além de uma lástima é um perigo à civilização. Ninguém distingue mais a olho nu quem presta de quem não vale absolutamente nada, e por trás do famigerado carisma escondem-se grandes, inomináveis monstros. Por outro lado, personalidades macabras podem reservar heróis (ou, mais precisamente anti-heróis) dignos de todo o nosso respeito. Apesar da cara de pouquíssimos amigos, ainda que emoldurada por uma estampa atraente, esses candidatos a salvadores do mundo largam seus projetos, família, sonhos, ambições profissionais para servir a um coletivo que quase nunca os reconhece e até os repele em muitas circunstâncias. Como se flutuassem alguns metros acima dos simples mortais, essas criaturas superiores nem têm vontade de esfregar seus poderes extraordinários nas fuças de ninguém, e sem dúvida esse se torna outro de seus admiráveis predicados.
Em “Halo”, o gênero humano fragmentou-se em duas facções, o o Governo Unificado da Terra (UEG, na sigla em inglês) e os Rebeldes, e o Comando Espacial das Nações Unidas (UNSC), o braço militar do UEG, tem a pretensão de vencer o Covenant, um inimigo de proporções titânicas que não está disposto a sossegar enquanto não trucidar até o derradeiro homem sobre a face da Terra. Master Chief, o único guerreiro forte o bastante para detê-lo, lidera os Spartans, um exército de soldados geneticamente mais fortes, que também dedica-se a resgatar indivíduos como Kwan, abandonada à própria sorte num planeta que se deteriora a olhos vistos. Em meio a um vasto elenco, Pablo Schreiber e Yerin Ha destacam-se em personagens manjados, mas bem-construídos, nos nove episódios da primeira temporada, na Netflix, e nos dezessete capítulos dos dois segmentos, no Paramount+. Para quem gosta de caos e estilo, é um prato cheio.
Série: Halo
Criação: Steven Kane e Kyle Killen
Anos: 2022-2024
Gênero: Ficção científica
Nota: 8/10