A melhor série da Netflix em 2024 até agora, e também a mais assistida do mundo na atualidade Divulgação / Netflix

A melhor série da Netflix em 2024 até agora, e também a mais assistida do mundo na atualidade

Sob uma lente analítica refinada, “The Umbrella Academy” retorna à Netflix com sua última temporada, prometendo uma conclusão tão inesperada quanto fascinante. Se os cineastas Tim Burton ou os irmãos Wachowski se aventurassem no universo dos super-heróis, talvez entregassem algo similar a essa série, que, assim como “The Boys” da Amazon Prime Video, desafia as convenções do gênero. Baseada nos quadrinhos de Gerard Way e Gabriel Bá, “The Umbrella Academy” redefine o arquétipo tradicional dos heróis, inserindo-se em uma tendência revisionista que remete ao movimento que, nos anos 1970, desmantelou o mito do faroeste. Em um cenário dominado pelo universo Marvel, com sua abordagem simultaneamente leve e séria, produções como essa oferecem uma alternativa marcante e ousada.

Enquanto “The Boys” adota uma sátira mordaz e uma violência explícita para subverter o conceito de super-heróis, “The Umbrella Academy” se destaca por sua excentricidade deliberada. Os protagonistas, membros de uma família de super-heróis relutantes criados por um mentor peculiar (interpretado por Colm Feore), transitam em um mundo onde o incomum é a norma. Essa estranheza é evidenciada logo no início da temporada, quando os antagonistas Jean (Megan Mullally) e Gene (Nick Offerman) executam uma coreografia ao som de “Gypsys, Tramps & Thieves” de Cher, encapsulando a natureza surreal da série.

A comparação com “The Boys” destaca a diferença de estilos e propósitos entre as séries. Enquanto “The Boys” critica diretamente a comercialização e a corrupção dos ideais heroicos, “The Umbrella Academy” explora de forma mais introspectiva os traumas e as disfunções familiares que emergem de vidas marcadas por poderes extraordinários. “The Boys” pode ser mais acessível ao espectador médio, com sua narrativa linear e crítica social evidente, mas “The Umbrella Academy” exige um envolvimento mais profundo, com suas múltiplas linhas temporais e narrativas que cruzam diferentes realidades. A complexidade da trama é tamanha que a Netflix optou por lançar um vídeo de recapitulação, onde o próprio elenco, em seus personagens, tenta esclarecer os eventos das temporadas anteriores, embora até eles pareçam se perder em meio à intrincada narrativa.

Apesar dessa complexidade, o que realmente faz “The Umbrella Academy” brilhar é sua extravagância. A série cativa desde o início, com cenas como a dos heróis enfrentando um Papai Noel armado, cuja presença pouco tem a ver com a trama principal, mas que exemplifica o tom irreverente da produção.

Os personagens são o verdadeiro coração da série. Viktor, interpretado por Page, Klaus, vivido por Sheehan, e Luther, na pele de Hopper, trazem à tela uma diversidade de personalidades que contribuem para momentos de interação únicos e memoráveis. A força da série reside nesses personagens e na química que desenvolvem em cena, tornando a narrativa ainda mais envolvente.

Entretanto, a recepção do público tem sido dividida, especialmente no que diz respeito à evolução dos personagens e à conclusão de suas histórias. Alguns fãs expressaram desapontamento com certos arcos, que sentiram ter sido encerrados de maneira apressada ou anticlimática. A revelação do envolvimento de Sir Reginald Hargreeves no assassinato de Kennedy, por exemplo, gerou debates acalorados nas redes sociais, com alguns espectadores questionando a coerência dessa escolha narrativa. Ainda assim, a série mantém um público fiel, que aprecia sua abordagem única e a profundidade emocional que oferece.

A temporada final também não está isenta de controvérsias. A decisão de explorar temas mais sombrios e psicológicos, como o impacto do trauma e a busca por identidade, dividiu opiniões. Enquanto alguns críticos elogiaram a ousadia da série em abordar essas questões de maneira direta, outros apontaram que isso poderia alienar parte do público, que esperava uma abordagem mais leve e centrada na ação. Ainda assim, essa exploração profunda de temas humanos contribui para o impacto duradouro da série, destacando-a como uma obra que vai além do mero entretenimento.

Além disso, “The Umbrella Academy” finalmente revela o enigma do “Incidente Jennifer”, uma subtrama que intriga desde a primeira temporada, proporcionando uma resolução satisfatória para os fãs que acompanham a série desde o início. A temporada também apresenta um subplot intrigante envolvendo um trem que atravessa dimensões e um romance que pode ter consequências desastrosas, adicionando novas camadas à já complexa mitologia da série.

Ao comparar “The Umbrella Academy” e “The Boys”, é possível perceber que ambas as séries, apesar de suas diferenças, têm impacto cultural significativo. Enquanto “The Boys” se estabeleceu como um comentário social ácido sobre o estado atual da idolatria dos super-heróis e das corporações, “The Umbrella Academy” se diferencia ao oferecer uma reflexão sobre a humanidade e os laços familiares em meio ao caos. As duas séries têm provocado discussões acaloradas online e influenciado outras produções no gênero, cada uma à sua maneira. O tom mais sombrio e cínico de “The Boys” ressoa com um público que busca uma desconstrução mais direta dos super-heróis, enquanto “The Umbrella Academy” atrai aqueles que procuram uma narrativa mais complexa e emocionalmente rica.

Conforme a temporada final se encaminha para uma conclusão poderosa, fica claro que o verdadeiro poder de “The Umbrella Academy” está em seu retrato compassivo e singular de seus personagens em um mundo desconcertante. A série não se esquiva de explorar as imperfeições e vulnerabilidades de seus heróis, criando uma conexão genuína com o público. O equilíbrio entre excentricidade estilística e profundidade emocional assegura a “The Umbrella Academy” um lugar de destaque no gênero, marcando-a como uma obra que transcende as expectativas dos super-heróis.


Série: The Umbrella Academy
Criador: Steve Blackman
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Aventura/Fantasia
Nota: 9,5/10