Você não vai conseguir desviar os olhos do thriller eletrizante de ação com Justin Timberlake, na Netflix Divulgação / 20th Century Studios

Você não vai conseguir desviar os olhos do thriller eletrizante de ação com Justin Timberlake, na Netflix

No âmago de toda produção humana reside uma medida inescapável: o tempo. Esta premissa, firmemente estabelecida, ganhou contornos mais definidos há quase dois séculos, quando Karl Marx vagou por fábricas, primeiro em sua terra natal, Alemanha, e depois na Inglaterra, exilado em função do conteúdo pouco convencional de seus escritos.

Entre os conceitos tecidos por Marx, destaca-se a teoria da mais-valia, que aborda o tempo necessário para a conclusão de uma mercadoria, conceito que Andrew Niccol manipula em “O Preço do Amanhã”, amalgamando clichês e peculiaridades. Os dias infindáveis e os anos que fluem inexoravelmente são meticulosamente contabilizados neste filme, de maneira análoga ao cálculo do lucro pelo industrial, fundamento central do capitalismo. O tempo despendido pelo trabalhador na produção de bens — sejam automóveis, pasta de dentes, arranha-céus ou filmes — não se reverte em ganho para ele próprio, mas sim para quem o emprega. Eis a essência do enredo.

“O Preço do Amanhã” desenrola-se em um futuro distante, onde o tempo é literalmente equiparado a dinheiro, gerando uma sociedade onde as pessoas, ou algo semelhante a elas, são programadas para envelhecer até os 25 anos e, a partir daí, enfrentar uma contagem regressiva inexorável, a menos que consigam garantir mais tempo, seja de forma lícita ou não.

Will Salas, interpretado por Justin Timberlake, é injustamente implicado na morte de Henry Hamilton, um homem centenário, e se vê envolvido em uma trama complexa ao lado de Sylvia, vivida por Amanda Seyfried, filha de Philippe Weis (Vincent Kartheiser), o homem mais rico do mundo. Juntos, eles confrontam Raymond Leon (Cillian Murphy), um antagonista determinado a manter o status quo.

Filmes de ficção científica têm explorado cada vez mais o tema da tecnologia inicialmente servil ao homem, que eventualmente se volta contra ele, e “O Preço do Amanhã” segue essa linha narrativa. Contudo, talvez o mais notável exemplar contemporâneo desse tema seja “Ex_Machina: Instinto Artificial”, dirigido com maestria por Alex Garland, que examina de forma magistral as ramificações éticas da inteligência artificial.

Ainda que “O Preço do Amanhã”, na Netflix, possua suas falhas, destacam-se as atuações cativantes de Timberlake e Seyfried, cuja química sustenta o filme apesar de suas deficiências narrativas. Este é um filme que, apesar de seus tropeços, levanta questões relevantes sobre o valor do tempo em uma sociedade distópica e estratificada.

Além disso, o filme suscita reflexões sobre a disparidade econômica e social que permeia essa realidade distópica. Ao converter tempo em uma moeda tangível, a narrativa expõe as consequências brutais dessa mercantilização do tempo, onde os menos favorecidos são condenados a uma existência efêmera, enquanto os privilegiados acumulam séculos de vida em suas fortunas.

É interessante observar como a trama levanta questões sobre o valor do trabalho e a distribuição desigual do tempo entre diferentes estratos sociais. Enquanto alguns têm suas vidas regidas pelo imperativo de conquistar mais tempo, outros lutam apenas para sobreviver mais um dia. Essa dicotomia entre os que têm tempo de sobra e os que mal conseguem escapar da precariedade é um reflexo contundente das disparidades presentes em nossa própria sociedade contemporânea.


Filme: O Preço do Amanhã
Direção: Andrew Niccol
Ano: 2011
Gêneros: Ficção científica/Ação
Nota: 7/10