Baseado em romance eslavo premiado, filme com Adam Sandler acaba de chegar à Netflix Larry Horricks / Netflix

Baseado em romance eslavo premiado, filme com Adam Sandler acaba de chegar à Netflix

O existencialista “O Astronauta” é inspirado no romance homônimo do autor tcheco Jaroslav Kalfar, publicado em 2017. Adam Sandler desponta em uma de suas poucas atuações dramáticas, interpretando Jakub Prochazka, um astronauta que está no espaço e começa a refletir sobre o peso das prioridades. Órfão e criado pelos avós, ele sempre sonhou em ser astronauta. No entanto, seus caminhos se cruzaram com o de Lenka (Carey Mulligan), por quem acabou se apaixonando, casando e tendo filhos. Mas a distância ao longo destes 189 dias de missão começa a pesar em sua relação.

Jakub é enviado para uma missão espacial que tem o intuito de descobrir do que se trata uma nuvem roxa e misteriosa no céu, na qual os cientistas intitularam de Chopra. Sem mensagens vindas de Lenka, Jakub sente que há algo de errado. Angustiado e solitário, ele não para de pensar sobre a esposa que ele deixou para trás. Até que uma aranha extraterrestre chamada Hanus (Paul Dano) entra na sua nave para ajudá-lo a lidar com suas frustrações e ansiedades. Juntos, eles começam a refletir sobre o passado, os traumas e o futuro, quem sabe um iminente fim da existência de Hanus ou Jakub. Afinal, o primeiro seria a consciência do segundo?

“O Astronauta” é uma metáfora do distanciamento das relações. Em uma das primeiras cenas, Lenka faz Jakub prometer: “Onde você for eu vou e onde eu for você vai”. Depois, ele é questionado por Hanus sobre as razões pelas quais fazemos promessas que não podemos cumprir. Relacionamentos amorosos, na maioria esmagadora das vezes, não seguem ritmos lineares. A relação muda, as prioridades trocam, não conseguimos sempre estar presentes de corpo e alma. Grávida do segundo filho com Jakub, Lenka está farta de esperar por seu amor. Mas a missão espacial de Jakub nem sempre representa uma ausência física, mas também uma ausência emocional. Algumas pessoas preferem se afastar a se fazerem presentes para resolver questões mal resolvidas de suas relações.

“O Astronauta”, na Netflix, é um filme triste, melancólico, contemplativo e filosófico, ao mesmo tempo em que tem uma estética quase infantil e propositalmente boba. O material completo é excêntrico e pode deixar algumas pessoas assustadas ou sem querer fazer o mínimo esforço para entender. O filme tem uma expressão artística psíquica, terapêutica, que mistura sonhos e realidade e busca fazer a interpretação das emoções de seu protagonista por meio dessas visões embaçadas e surrealistas. As emoções transmitidas por esta história são pesadas e a atmosfera é esmagadora, sombria.

Adam Sandler faz uma atuação extremamente competente e diferente de outros papeis dramáticos que desempenhou. Desta vez, ele apenas sussurra e nos convence com suas expressões faciais taciturnas, cansadas, resignadas. Há um esgotamento emocional explícito e ele demonstra isso de forma tão convincente.

É daqueles filmes em que o protagonista carrega sozinho toda a história. Carey Mulligan é apenas devaneios do protagonista e quase não possui falas. Apesar de 98% do tempo de tela ser de Adam Sandler, o filme conta com um elenco fortíssimo, que inclui Isabella Rossellini, Lena Olin, Kunal Nayyar e Paul Dano.


Filme: O Astronauta
Direção: Johan Renck
Ano: 2024
Gênero: Drama/ Ficçao Científica
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.