Inspirado em teoria de Zygmunt Bauman, filme indicado a 2 estatuetas do Oscar está na Netflix Gaumont / Columbia Tristar Film

Inspirado em teoria de Zygmunt Bauman, filme indicado a 2 estatuetas do Oscar está na Netflix

“Closer: Perto Demais”, o filme dirigido por Mike Nichols em 2003, surge como um retrato das relações líquidas de Zygmunt Bauman, desafiando convenções românticas e apresentando um olhar intrigante sobre a ferocidade humana. Quase duas décadas após seu lançamento, continua a provocar, não pela violência ou suspense, mas pela crueza e agressividade de seu linguajar. Nichols, ao adaptar a peça de Patrick Marber, almejava injetar realismo nos romances, e embora tenha atingido esse objetivo em parte, proporcionou ao público uma perspectiva única da natureza humana.

Ao explorar a trama de dois casais — Dan e Alice, Larry e Anna — o filme oferece diálogos inteligentes e desafia os padrões do politicamente correto. Contudo, sua representação machista das mulheres como peças em jogos sexuais é notável, enquanto homens dominadores controlam as relações. Este enredo, apesar da aparente fragilidade feminina, revela também mulheres tóxicas e impulsivas.

A história se desenrola com Dan, um escritor de obituários, e Alice, uma jovem que escapa de um passado conturbado. Seu encontro inesperado desencadeia uma paixão, mas as relações, ao longo do tempo, se desintegram, revelando uma teia complexa de emoções. A trama sugere que os personagens se envolvem em relacionamentos movidos por crueldade e vingança, questionando a razoabilidade dessas interações.

Em 2003, “Closer: Perto Demais” inovou ao apresentar uma linguagem romântica mais complexa, destacando emoções como frustração, raiva e decepção. A produção ofereceu uma perspectiva realista de que o ‘felizes para sempre’ é apenas uma pausa, pois a verdadeira jornada do relacionamento está além desse ponto. A obra desafiou ideias preconcebidas sobre o amor e introduziu uma narrativa que transcende o idealismo.

O filme pode não ser uma representação idealizada do amor, mas serve como um antídoto para as ilusões românticas. Em 2003, a discussão sobre responsabilidade afetiva não estava em voga, e o enredo reflete a irresponsabilidade emocional. No entanto, a arte é maleável, ganhando diferentes interpretações ao longo do tempo. Hoje, assistir ao filme é um exercício de consciência, incitando reflexões sobre nossa própria conduta em relacionamentos.

“Closer: Perto Demais” tornou-se um clássico moderno dos romances, proporcionando uma visão que equilibra o amargo e o doce do amor. Ao descermos da nuvem de ilusão, somos confrontados com uma obra que desafia, instiga críticas e, acima de tudo, promove uma reflexão profunda sobre a complexidade das relações humanas.

“Closer: Perto Demais”, na Netflix, é um convite à reflexão, uma obra que transcende o tempo e se adapta aos paradigmas mutáveis do amor e das relações. À medida que avançamos no século 21, as discussões em torno da responsabilidade afetiva ganham destaque, e o filme, de certa forma, antecipou essa conversa, tornando-se uma peça valiosa na trama das representações cinematográficas dos relacionamentos humanos.


Filme: Closer: Perto Demais
Direção: Mike Nicholls
Ano: 2003
Gênero: Romance/Drama
Nota: 8/10