O filme inesquecível, que foi aplaudido de pé no Festival de Cannes, está na Netflix e você não assistiu Divulgação / Wild Bunch Germany

O filme inesquecível, que foi aplaudido de pé no Festival de Cannes, está na Netflix e você não assistiu

A indústria cinematográfica tem a capacidade única de moldar realidades passadas e distantes conforme as demandas e expectativas contemporâneas. “Terra Selvagem”, uma narrativa que oscila entre o suspense e o drama do velho oeste, dirigida por Taylor Sheridan, emerge como uma tentativa ambiciosa do cineasta de reavivar a essência de uma era e de um ambiente que, infelizmente, já se encontram distantes no tempo.

Sheridan, já reconhecido por seu trabalho nos roteiros de filmes aclamados como “Sicario: Terra de Ninguém” e “A Qualquer Custo”, assume a direção com a promessa de mergulhar mais profundamente nos aspectos psicológicos de seus personagens, especialmente em seu protagonista complexo e multifacetado, que captura a atenção do público com sua jornada tortuosa e moralmente ambígua.

No coração da trama está a história pessoal de Cory Lambert, interpretado magistralmente por Jeremy Renner, um rastreador de predadores cuja vida é marcada por uma tragédia familiar profunda. A perda de sua filha, Emily, anos antes, é um fantasma que o assombra constantemente, um lembrete cruel da fragilidade da existência humana e da inevitabilidade da dor. A narrativa se aprofunda na luta interna de Cory, explorando como o luto molda suas ações e decisões, especialmente quando confrontado com um novo mistério que ressoa dolorosamente com seu passado.

A cinematografia de Ben Richardson empresta ao filme uma atmosfera quase poética, suavizando os momentos de tensão e desespero que permeiam o roteiro de Sheridan. A história se desenrola em um cenário inóspito, onde a beleza natural contrasta com a brutalidade dos eventos que se desdobram. A chegada da agente do FBI Jane Banner, interpretada por Elizabeth Olsen, introduz uma nova dinâmica na investigação, trazendo à tona as falhas e desafios enfrentados pelas autoridades locais e destacando o aspecto social crítico que Sheridan deseja enfatizar.

O enredo se aprofunda na investigação do assassinato de Natalie, uma jovem indígena cuja morte trágica serve como catalisador para a história. A colaboração entre Cory e Jane, apesar de inicialmente marcada por desafios e desentendimentos, gradualmente se transforma em uma parceria determinada a desvendar a verdade por trás do crime, revelando as camadas de injustiça e preconceito que afetam a comunidade indígena.

O filme não apenas oferece um suspense envolvente, mas também lança luz sobre questões sociais profundamente enraizadas, como a violência contra mulheres indígenas e a ineficácia do sistema de justiça em protegê-las. Sheridan utiliza “Terra Selvagem” como uma plataforma para criticar a morosidade e a apatia com que tais casos são frequentemente tratados, refletindo uma realidade sombria que transcende a ficção.

Além de sua narrativa impactante, “Terra Selvagem” é notável por suas performances excepcionais, especialmente de Renner e Olsen, cuja química e entrega aos seus papéis adicionam uma camada de autenticidade e emoção à história. O filme, filmado sob condições adversas, é um testemunho do compromisso da equipe em trazer à tona uma história que é tão perturbadora quanto necessária.

Ao final, “Terra Selvagem” se destaca não apenas como um thriller envolvente, mas como um comentário social incisivo, desafiando o público a confrontar as realidades desconfortáveis que muitas vezes são ignoradas ou esquecidas. Sheridan, através de sua direção habilidosa e storytelling provocativo, oferece uma obra que é tanto uma homenagem à resiliência humana quanto um apelo à ação para a justiça e a empatia.


Título: Terra Selvagem
Direção: Taylor Sheridan
Ano: 2017
Gênero: Drama/Policial/Suspense
Nota: 10/10