Com Rooney Mara, filme ganhador do Oscar inspirado em best-seller está no Prime Video Divulgação / Plan B Entertainment

Com Rooney Mara, filme ganhador do Oscar inspirado em best-seller está no Prime Video

Em uma comunidade religiosa na Bolívia, meninas e mulheres são dopadas e estupradas durante a noite por homens da colônia. Ao despertarem no dia seguinte com flashes da violência sofrida e hematomas pelos corpos, são rotuladas como loucas. Suas lembranças não passam de delírios. Os machucados são castigos e punições de demônios por seus pecados. Com seus relatos constantemente descredibilizados e agredidas e violadas por homens incumbidos de protegê-las, as mulheres, desesperadas, começam a se reunir para planejar uma fuga. “Entre Mulheres”, no Prime Video, filme de Sarah Polley adaptado do romance homônimo de Miriam Toews, publicado em 2018, narra a aflição de um grupo de mulheres que precisam se rebelar discretamente para salvar suas próprias vidas e de suas filhas.

Vivendo em uma comunidade extremamente restritiva, onde o uso de eletricidade, celulares e aparelhos eletrodomésticos não são permitidos, é difícil até mesmo pedir por socorro. Embora a história que inspirou o roteiro de Polley se passe entre os anos de 2005 e 2009, é difícil identificar, apenas pelo visual, em qual período histórico a narrativa se ambienta. O local, da mesma maneira, parece camuflado no mapa. Poderia ser em qualquer canto. Os trajes parecem saídos do início do século 20. Os costumes, igualmente antiquados. E isso poderia ser uma forma de Polley comunicar que a violência de gênero está em todos os lugares de todas as épocas. O livro e Toews é inspirado em uma história real e as vítimas iam de crianças de cinco anos a mulheres idosas.

A própria Miriam Toews cresceu em uma dessas comunidades e, neste longa-metragem, ela conta uma história de coragem e resistência. Um celeiro no meio de um campo é o local em que as mulheres da vila se encontram, enquanto um grupo de homens permanecem temporariamente presos, depois de serem flagrados pulverizando remédio para gado nas casas, com intuito de dopá-las. Antes que eles sejam libertados, elas precisam decidir o que fazer.

Então, neste celeiro afastados, elas decidem realizar assembleias para deliberar. Apenas um homem é aceito. August (Ben Whishaw) é o último indivíduo adulto do sexo masculino no qual essas mulheres podem confiar. Sua afabilidade o torna quase “indefeso” perto delas.  Ele, que é professor, fica incumbido de anotar as atas dos encontros, porque nenhuma das mulheres sabem ler ou escrever. Outra maneira de violentar uma pessoa é lhe tirando o poder de expressar e comunicar sua dor, sofrimento, história. A saga dessas mulheres é narrada a partir destas anotações de August. E, embora ele seja o narrador, é, também, apenas um observador.

“Entre Mulheres” é um filme de conversas e mais conversas. Não há um desenvolvimento enérgico entre as cenas que não seja a dinâmica das falas. Então, pode parecer arrastado para quem é ansioso por ação. As discussões entre mulheres têm um objetivo: perdoar a violência sofrida? Chegar a um acordo sobre ir ou não embora dali. E, caso decidam partir, como fariam isso de forma segura? Elas levariam seus meninos e adolescentes? Ainda seria possível resgatá-los de sua criação misógina? O ponto de partida é a opressão e o de chegada, o da libertação.

O título original do filme é “Women Talking” ou, na tradução literal, “Mulheres Conversando”. Não há nada mais assustador para um homem do que uma conversa entre mulheres. Afinal, o que elas estariam tramando? Estariam se rebelando? Estariam rindo ou o ridicularizando? Homens usam a força física para mostrar poder. Mulheres usam a união entre si. Afinal, nada mais libertador que ter outra mulher para lembrá-la de que você merece melhor.


Filme: Entre Mulheres
Direção: Sarah Polley
Ano: 2022
Gênero: Drama
Nota: 9/10