Desligue o cérebro, sorria e relaxe: nova comédia romântica da Netflix foi feita sob medida para melhorar seu dia K.C. Bailey / Netflix

Desligue o cérebro, sorria e relaxe: nova comédia romântica da Netflix foi feita sob medida para melhorar seu dia

É sempre a mesma coisa. Chega o Dia dos Namorados, celebrado nos Estados Unidos em 14 de fevereiro, e Hollywood despeja uma imensa carga de comédias românticas sobre o incauto público. No caso de Trish Sie, a diretora vem se firmando como um dos nomes mais estritamente ligados ao caos da paixão imprevisível — embora todo mundo saiba que ela sempre ronda, e até o deseja —, deslindada em histórias que não raro flertam com o nonsense em diferentes escalas.

No badalado “Bares, Bolos e Amizades” (2023), Sie afronta a iminência da morte sob a perspectiva de duas amigas muito jovens e algo solitárias; agora, ela muda o foco (mas nem tanto), ao mostrar em “Jogos de Amor” um grupo de amigos na casa dos quarenta que insistem em se comportar como adolescentes tardios, até que acontece o que sói acontecer nesses casos, uma espécie de vingança do universo, uma justiça cósmica que penaliza seus réus arranjando-lhes um único parceiro e, assim, quiçá, vivam o amor da forma mais ingênua que se pode conceber — pelo menos até o próximo revertério das emoções mais primitivas que alguém pode conservar no mais fundo de seu espírito.

Amores podem ser como perfumes, que evolam sem que se perceba, embora sempre deixem seu rastro de olores ora adocicados, ora cítricos, quase azedos; como cores, luminosas feito o sol numa tarde de verão, ou tão lúgubres e escuras que tingem de morte o que deveria sembrar apenas o existir mesmo.

A tal amizade com benefícios, expressão vista no título original de “Amizade Colorida” (2011), dirigido por Will Gluck, e tema central também de “Sexo sem Compromisso” (2011), levado à tela por Ivan Reitman (1946-2022), é uma obsessão de que os estúdios não desapegam, motivados pelo vasto borderô que essas produções rendem.

Aqui, o roteiro de Whit Anderson aposta quase todas as fichas em Mack, a jornalista esportiva interpretada por Gina Rodríguez, uma nova-iorquina que conhece sua cidade de cabo a rabo, e por isso, foi inventando brincadeirinhas que talvez não ficassem bem em algum outro lugar provinciano da América.

Com o melhor amigo Adam, de Damon Wayans Jr., Mack sai pela noite com o próximo golpe na cabeça, quase sempre escolhendo para vítima um cavalheiro que bebe recluso no canto de um balcão de bar, com quem flerta, se aproxima, joga um charme e arranca uns beijos, que podem ou não terminar na cama de um dos dois. Numa dessas, depara-se com Nick, que preenche seus padrões de qualidade varonil; imagina que com ele tudo vai se dar como sempre, possivelmente tenha de se empenhar um pouco além do habitual, mas essa é uma presa rara, que faz valer qualquer esforço. 

Depois de sete temporadas como o próprio senhor das trevas na excelente “Lúcifer” (2016–2021), Tom Ellis confere alguma sofisticação a esta trama esquecível. Na pele do típico correspondente de guerra dos clássicos de antanho, maldito e sedutor, Ellis lembra seus dias no inferninho diabólico que comandava na série de de Tom Kapinos, e bate uma bola redonda com Rodríguez, mantendo-se em evidência até o desfecho, quando, com toda a classe, anula os sortilégios de Mack. E salva este Dia de São Valentim.


Filme: Jogos de Amor
Direção: Trish Sie
Ano: 2024
Gêneros: Esporte/Drama
Nota: 7/10