Pegue seu chocolate quente e se jogue no sofá para assistir ao filme adorável e divertido que acaba de chegar na Netflix Elizabeth Morris / Netflix

Pegue seu chocolate quente e se jogue no sofá para assistir ao filme adorável e divertido que acaba de chegar na Netflix

Cada uma a seu modo, famílias enfrentam as dificuldades que só elas mesmas conhecem. Filhos tornam-se adultos e não têm vontade alguma de renunciar a seu quinhão de mundo, pais por seu turno sentem-se perdidos em meio à cornucópia de transformações que interferem na sua própria maneira de levar o que lhes resta de vida e esse compasso de uma maneira ou de outra, cedo ou tarde, deságua num caos de proporções inéditas e desafiadoras, cuja solução talvez nunca se revele.

Explorando as muitas faces do nonsense, “Trocados” compõe inferências sobre as quais todos já pensamos, mas que se desvanecem com a bruma corrosiva do tempo, se insinuando dia a dia um pouco, até que não resta nada a fazer senão especular sobre chances um tanto fantasiosas de se reverter o processo, sempre havendo o risco de novas (e mais estranhas) descobertas. Competente com essas tramas ágeis, vesanas, em que parecem se desenrolar mil acontecimentos a cada segundo, McG discorre a respeito do eterno conflito geracional valendo-se de um fenômeno sem nenhum paralelo com a realidade, mas não muito diferente do que se vê em lares planeta afora.

À medida que o Natal fica mais próximo, começam a pulular os longas com a data mais feliz do ano por contexto, e na casa dos Walker ela é observada com rigor — palavra que, sejamos francos não combina muito com esse tempo mágico —, ou pelo menos era. Essa família comum a exemplo de todas as outras e com as pequenas tragédias e grandes alegrias que as diferenciam de todas as outras, passa por revoluções que eles mesmos não são capazes de acompanhar, ou melhor: uma parte fomenta essas mudanças profundas e a outra assiste a tudo meio atônita, querendo entender, esforçando-se por assimilá-las, porém ficando pelo caminho, tratorada por novos anseios e novas demandas.

Jess é, nessa ordem, uma mãe devotada, uma arquiteta bem-sucedida e uma esposa amorosa, padecendo de certa resistência quanto a reconhecer que os filhos cresceram e, talvez — talvez — não seja assim tão necessária. Bill é professor de música de classes do ensino médio num colégio tradicional, e, como sói acontecer, quase nunca tem algo de relevante a acrescentar à educação zelosa que a mulher proporciona aos filhos, CC e Wyatt, ela a mais talentosa jogadora da seleção de futebol feminino da escola, e este, um nerd convicto, fazendo estimulantes descobertas na álgebra ainda debaixo do teto dos pais. Jennifer Garner e Ed Helms conduzem o elenco no transcurso de pouco mais de cem minutos, fluidos, quase nunca previsíveis, deixando espaço para Emma Myers e Brady Noon também mostrarem a que vieram.

Completam a trupe Miles, o adorável bebê “interpretado” pelos gêmeos Lincoln e Sykes, e um buldogue francês; eles também participam do que acontece numa feira natalina que o clã visita, mais precisamente depois de passarem pela banca de Angelica, montada na porta de seu furgão, com Rita Moreno num papel sem tanta visibilidade, mas que faz toda a diferença.

A troca a que o título se refere é uma bem-elaborada sequência em que filhos assumem a vida de seus pais e vice-versa — sem esquecer Miles e o cachorro —, e daí vêm à superfície as cenas sem nenhuma explicação lógica, como ninguém reparar nas roupas mais formais de um grupo e as gírias e movimentos descoordenados do outro, mas quem se importa? “Trocados” é só mais um filme de Natal como todos os outros, com a mensagem de sempre, bem-feito e permeado de lances de que iremos nos envergonhar de ter rido antes que o Carnaval desponte. Mas a vida é mesmo um tanto besta.


Filme: Trocados
Direção: McG
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Infantil
Nota: 8/10