Belíssimo e terapêutico, novo filme na Netflix é lição de humanidade, autoconhecimento e cura Divulgação / Nomadic Pictures

Belíssimo e terapêutico, novo filme na Netflix é lição de humanidade, autoconhecimento e cura

Em 2007, o ex-marido de Robin Wright, Sean Penn, nos presenteava o belíssimo “Na Natureza Selvagem”, filme que retrata a história real de Christopher McCandless, um jovem que decidiu abrir mão da vida comum para se aventurar nas entranhas da América selvagem. Sua jornada foi repleta de descobertas, amizades e felicidades, mas também de infortúnios, que acabaram por levá-lo à morte. A vida fora da civilização pode ser mágica e ao mesmo tempo, muito solitária e cruel. Quase na mesma linha, Wright lançou recentemente, em 2021, o drama “Um Lugar”, que retrata a vida de uma mulher que decidiu viver reclusa em uma cabana nas montanhas do Wyoming.

O enredo coescrito por Jesse Chatham e Erin Dignam giram em torno de Edee, estrelada também por Wright, uma mulher profundamente marcada por uma dor de um passado recente. Deprimida e desiludida, ela decide cortar seus vínculos com a sociedade e se isolar na natureza. Seu mote, diferente de McCandless, não é sugar o tutano da vida no qual Thoreau descreveu em “Walden”, mas se distanciar o suficiente da civilização ao ponto de que, se isso significar morrer sozinha de inanição no cume de uma montanha, que assim seja. O desejo de Edee é aniquilar-se da face da Terra.

Sem experiência em sobreviver na vida selvagem, agronomia ou caça, Edee vive um verdadeiro sacrilégio, enfrentando ataques de urso, um inverno impiedoso e escassez de alimentos. Já no limite da precariedade de sua vida, ela é encontrada em choque e hipotérmica no chão de sua cabana por Miguél (Demián Bichir), um caçador que notou que a chaminé das colinas parou de fumegar. Ele recruta a ajuda da amiga enfermeira Alawa (Sarah Dawn Pledge), que presta os primeiros socorros à Edee e a impede de morrer, à despeito de seus clamores para ser deixada em paz e sem socorro.

Mas é Miguel que faz vigília noites a fio até que a desconhecida recupere sua vitalidade. Quando Edee se recobra completamente da realidade, ela agradece Miguél, mas o pede que não traga notícias da civilização. Ele propõe a ela algumas lições de sobrevivência que a permitirão que ela se mantenha sozinha na cabana. Edee aceita e, com isso, ele passa a visitá-la de tempos em tempos, oferecendo conhecimentos de caça, plantação, entre outros, além da companhia de um amigo. Ambos descobrem que possuem mais em comum do que imaginam. Edee, ainda, percebe que ficará para sempre marcada pela bondade de Miguél, alguém que lhe renova o ânimo de vida e a ajuda a recuperar o desejo de pertencer.

Comovente e belamente atuado, “Um Lugar” é uma lição de humanidade, resiliência e cura, que pode impactar a vida de quem assiste. A esperança pode surgir de tantos lugares e formas inesperados, que mostra como a vida pode ser surpreendente bela, passageira e única. Em meio à tanta maldade, frieza e guerra, o cinema nos lembra, através de obras como essa, que ainda vale a pena estar vivo. A comovente conexão entre Wright e Bichir pode ser sentida por quem assiste.

Filmado em 29 dias, o longa-metragem, Wright precisou gravar às pressas enquanto havia pausa nas gravações de “House of Cards”.


Filme: Um Lugar
Direção: Robin Wright
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 9/10