O thriller alucinante de ação com James Franco e Jason Statham que você ainda não descobriu na Netflix Divulgação / Millennium Films

O thriller alucinante de ação com James Franco e Jason Statham que você ainda não descobriu na Netflix

O cinema ganha ou perde com figuras como Sylvester Stallone? Depende do ponto de vista, há de responder o leitor cauteloso, e não o recrimino. Tipos como Sylvester Stallone despertam sentimentos controversos, para dizer o mínimo. Meninos que cresceram no começo dos anos 1980 eram quase aliciados pela magia por trás de Rambo, só conhecendo seu verdadeiro significado pelo menos uma década depois. Para o bem e para o mal, “Rambo” forjou gerações inteiras de garotos, no masculino, e, por evidente, não só na América, mas chega uma hora que o corpo já não responde mais a tanta expectativa e é necessário reconhecer a vitória inexorável do tempo e passar o bastão. Gary Fleder usa “Linha de Frente” como uma boa oportunidade de se reconhecer as aptidões de Stallone como homem de cinema, competente ao migrar do proscênio para lados ocultos do expediente cinematográfico, atitude de um artista maduro e autoconfiante na medida. Existe um universo de críticos que não podem ouvir falar em Sylvester Stallone e tudo o que ele representa para o cinema, leia-se a indústria cinematográfica, ou seja, Hollywood. Esses são os que devotam seu ódio elitista a qualquer produto (e essa é a palavra mais ajustada aqui) que lembre minimamente narrativas em que um brucutu avança com socos e chutes mortais contra uma falange de outros marmanjos dados às fanfarronices que fazem incontestável seu sangue azul no reino do cinema macho por duas horas ou mais. 

Como todo preconceito encerra escolhas, conscientes ou não nem tanto, os sabidos perdem boas chances de avaliar o expediente de se fazer um filme sob perspectivas inovadoras, o que também é parte de seu ofício. Definitivamente, eles não têm ideia do que estão perdendo. Para princípio de conversa, esses filmes são especialmente divertidos, e assim, sabem como poucos tocar o espectador em zonas muito íntimas, cinzentas, onde virtude e opróbrio, civilização e barbárie misturam-se com gosto; destarte, entende-se muito sobre por que o mundo contemporâneo é como é. A forma mais fácil e decerto mais prazerosa de se compreender uma sociedade é tomando por análise suas manifestações artísticas, e aí Stallone entra metendo o pé na porta. Aqui, replica-se a polpa de tantos e tantos dos filmes de que o ator tomou parte e nos quais roubou a cena, e seu roteiro, ancorado no romance policial “Homefront” (2005, sem edição em português), de Chuck Logan, acaba até por transcender a história.

Chega a haver alguma coisa de Eastwood nela. É possível encontrar no anti-herói Phil Broker, de Jason Statham, traços mais ou menos evidentes de Dirty Harry, um policial — ou, no caso, ex-policial — que não consegue se desligar da sina de limpar o mundo da escória, e o publico é testemunha de que ele tenta. Como em quase toda a extensão do vasto porta-fólio de Stallone, o trabalho de Fleder se estrutura nas incontáveis subtramas sobre um homem atormentado pela morte da mulher, clichê dos clichês nesse gênero, que aproveita o pretexto de que ela o desejava longe de encrenca e vivendo num lugar pacato com Maddy, a filha dos dois, vivida por Izabela Vidovic, para dar um tempo na carreira. É justamente esse o pulo do gato. Statham e Vidovic estabelecem uma parceria feliz, e ainda há espaço de sobra para James Franco fazer uma participação pouco mais que afetiva na pele do traficante Gator Bodine, um vilão caricato, mas que corresponde ao carisma magnético da dupla de protagonistas.


Filme: Linha de Frente
Direção: Gary Fleder
Ano: 2013
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.