Você não vai resistir às lágrimas com essa comédia dramática na Netflix de partir o coração Divulgação / Park Pictures

Você não vai resistir às lágrimas com essa comédia dramática na Netflix de partir o coração

Sabe aquela sensação de que grandes tragédias nunca irão nos acometer? Como se houvesse um abismo entre catástrofes e a nossa própria realidade? Há um sentimento de que eventos cataclísmicos nunca vão acontecer com a gente, apenas com outras pessoas. É por aí que vem a premissa por trás do título “Other People”, comédia dramática estrelada por Jesse Plemons, dirigida e escrita por Chris Kelly.

Ele interpreta David, um roteirista de comédias que retorna para Sacramento, onde sua família vive, para acompanhar o tratamento de sua mãe, Joanne (Molly Shannon), contra um câncer terminal. Há dois meses em sua cidade natal, ele se sente sufocado pela realidade de sua vida em um período turbulento.

A mãe está física e emocionalmente em sofrimento, por isso, ele a poupa, e também a família, de alguns fracassos de sua vida pessoal, fingindo estar bem. David está desempregado e seu namorado terminou o relacionamento. Morando sob o mesmo teto de sua infância com Joanne, seu pai, Norman (Bradley Whitford), e as irmãs, Alexandra (Maude Apatow) e Rebeccah (Mariane Beaty), mas se sentindo solitário, ele se segura no fio da navalha para não desmoronar. Para piorar, reencontra por onde passa em sua cidade antigos conhecidos que gostaria de deixar no passado. Pelo menos, as circunstâncias inspiram sua escrita.

O filme perambula de mês em mês durante o último ano de vida de sua mãe, enquanto ele compartilha momentos constrangedores, cômicos e melancólicos com seus amigos e familiares. Nessas situações, David reflete sobre sua vida. Nós também temos tempos para pensarmos sobre a nossa própria e nos identificar, em alguns aspectos, com os personagens, refletir sobre as relações, sobre a brevidade e fragilidade da vida, sobre o tempo e o que deixamos ou não de fazer por nós e pelos outros.

Diálogos profundos, sensíveis e tristes deixam os espectadores em uma forte conexão com o filme e sua mensagem. Situações cômicas rasgam as cenas e surpreendem nos momentos mais inesperados, proporcionando alívio imediato no meio de diálogos angustiantes e deprimentes.

Uma das coisas que ainda perturbam David é o fato de seu pai nunca perguntar sobre seu ex-namorado, já que a família ainda acredita que estão juntos. Norman, embora trate o filho da maneira mais natural possível, parece ainda não aceitar que ele é gay e isso incomoda David, que deseja ter sua identidade reconhecida e respeitada. Prestes a perder sua mãe, ele já se sente sem pai.

Em Sacramento, o único amigo que tem para confidenciar suas dores é Gabe (John Early), que também está de passagem pela cidade. Pequenos contratempos começam a fazer com que David perca a razão, demonstrando seu desequilíbrio emocional nessa fase particularmente difícil. Esses momentos catalizadores da vida parecem perfeitos para arrancar alguns band-aids e cutucar algumas feridas, remoer o passado, mas, principalmente, pedir perdão.

Então, o filme nos conduz por essa trajetória de dor e de cura de David. O enredo não tenta transformar o câncer em algo menos desagradável ou omitir os detalhes incômodos da doença. Pelo contrário, acompanhamos a rotina da família de David em cada momento inconveniente no qual Joanne e todos precisam atravessar.

“Other People” é triste, amargo e sentimental, mas também é um retrato doce, simples e puro da vida em sua trivialidade preciosa.


Filme: Other People
Direção: Chris Kelly
Ano: 2016
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 8/10